Havia em um vale, uma cadeia de montanhas que formavam uma cordilheira sinuosa que percorria a um desfiladeiro, donde atravessava um carroceiro com a sua carroça. Por conseguinte, durante o percurso, sobreveio-lhe à descida de pedregulhos da montanha que caíram sobre a carroça, que quebrada, não pôde seguir em viagem. Desse modo o carroceiro percebendo estar em uma zona de risco e com a sua carroça quebrada, orou a Deus que lhe ajudasse a retirar as pedras que sobre ela caíra, e que aparecesse alguém que viesse ajudá-lo a sair daquele local perigoso, no qual ele se encontrava:
— Ó Deus! Ouça-me! Estou a Te implorar que me ajude com esta carroça quebrada. Manda-me ajuda para que eu possa sair desta situação difícil, além do mais, minha esposa me aguarda em casa, e tenho que estar bem para poder dar continuidade ao meu trabalho. Ajuda-me, por favor!
Diante disso, apresentaram-se ao carroceiro dois homens, que aparecendo de maneira muito rápida, assustaram-no:
— Olá, carroceiro! — cumprimentou-o um deles. — O que se passa? — perguntou. — Como nós podemos te ajudar?
Posto que, o carroceiro alegrou-se por ter sido atendido por Deus (e ao mesmo tempo ficou surpreso por tê-lo mandado tão rápido vir à ajuda), logo, cumprimentou-os:
— Olá, senhores! — saudou-os. — Estou em apuros! — aludiu envergonhado. — Preciso da vossa ajuda para poder tirar a carroça deste desfiladeiro. — mostrou-a com os braços estendido em sua direção. — Pois, houve um desmoronamento de pedras e estas atingiram a carroça, a quebrou, e estando eu sem meios para conseguir removê-la deste local perigoso, peço-lhes, por favor — se não for incomodá-los — que me ajudem a isso fazer.
Dado que, os homens muito prestativos, logo, ajudaram o carroceiro tirando às pedras que tinham aterrado a carroça. E após ajudá-lo, perguntou-lhe um dos dois:
— E tu? — curioso quis ele saber. — Como te chamas? E com que trabalhas? Pelo que vejo, és tu um carroceiro! Mas a tua carroça encontra-se vazia. — observou.
— Sou sim um carroceiro! — confirmou-lhe o viajante. — E trabalho com o transporte de mercadorias. Chamo-me Augusto! E sou um homem que vivo próximo à cidade, onde estou a me dirigir, até que me sobreveio à “avalanche” de pedras que causou o acidente com a minha carroça.
Em função disso, os homens, então, entreolharam-se, e um dos dois comentou com o carroceiro:
— O senhor é um homem pelo o que vejo muito bem disposto! — notou-lhe o físico. — De tal maneira que, me parece ser bem adaptado à lida de ter que puxar esta carroça. Tu já tiveste que algum dia vir a ter que passar por infortúnio como este?
— Não, senhores! — respondeu-lhes. — É a primeira vez que isto me ocorre. Já antes eu tinha passado por este local, e nunca me aconteceu nada de mal até o dia de hoje, quando ocorreu este desmoronamento de pedras que atingiu a minha carroça. Graças a Deus nada de mal me causou. Mas, minha carroça parece estar perdida! — lamentou-se. — Pois, as pedras que são grandes (como os senhores as veem), acabaram por danificar as rodas e o eixo.
— Vejo que o senhor mesmo após o acidente está muito grato! — disse-lhe um dos homens. — Ainda que lhe sucedesse tamanho embaraço e prejuízo. Tu não tens tristeza no teu coração. Por isso, lhe percebo até que contente e feliz, embora te sucedesse a desgraça com a carroça.
— Sim, senhor! — retorquiu-lhe o carroceiro. — Estou sempre alegre! — disse-lhe sorrindo. — Além disso, mesmo diante das dificuldades, para Deus nunca reclamei. E mesmo tendo uma vida difícil — dado que trabalho transportando mercadorias em minha carroça —, esta vida nunca me foi mal, e sempre tive a alegria de ser procurado por muitos clientes que me cotratavam pelo meu serviço. Sou grato por ter este meio de me sustentar.
Todavia, o homem que lhe perguntara era um anjo. E o outro que o acompanhava era um homem do povo, que o anjo tinha chamado para ajudá-lo com o carroceiro que para Deus pediu-lhe ajuda. Logo, por sua parte, disse o carroceiro ao anjo que ele não tinha se apercebido ser:
— O senhor me aparenta ser muito familiar! — disse coçando o queixo. — Eu tenho em meu coração e memória, uma vaga lembrança de já nos ter acontecido um encontro antes. Mas isso deve ser uma sensação tola que eu tive...
— Não! — afirmou-lhe o anjo. — Não é uma sensação tola a que te aconteceu. Já estivemos juntos antes.
Destarte, percebeu o carroceiro que o anjo lhe era familiar — mas ainda não se lembrava de qual lugar ele o conhecia, afinal, o anjo era um enviado por Deus. E questionou:
— Oras! De onde nos conhecemos? — perguntou o carroceiro de modo retórico. — Não me lembro de antes estar contigo! Mas sinto como já estivéssemos há muito tempo juntos, e nos encontrado em algum lugar.
Entrementes, veio até o carroceiro e o anjo o homem que estava a ajudá-los com as pedras, e de ambos despediu-se:
— Bom senhores, tenho que partir! — comunicou-lhes. — Pois, este quem me pediu ajuda, eu já o ajudei! — referiu-se ao anjo que não sabia ser. — Visto que, eu estava em minha lavoura a trabalhar, quando este homem me recrutou para te ajudar, vendo ele que um acidente lhe acontecera. Pois bem! — suspirou. — Despeço-me dos senhores, e aos senhores desejo-lhes felicidades. — sorriu. — Porquanto, tenho os meus compromissos, e tenho que a minha lavoura voltar. — justificou-se gesticulando com a mão direita ao partir, com um sinal de adeus.
À vista disso, o carroceiro e o anjo dele se despediram:
— Até logo meu amigo! — acenou o anjo com um meneio da cabeça. — Deus te abençoe! — agradeceu o carroceiro. — e assim foi o lavrador embora de volta para a sua lavoura.
Porém, nem o lavrador e nem o carroceiro sabiam ser o outro homem um anjo — um enviado por Deus. De maneira que, aconteceu que ficando o carroceiro com o anjo, disse-lhe o emissário:
— Então carroceiro? — perguntou-lhe. — Estamos nós dois agora aqui, e mais a carroça. Tu tens que consertá-la! — disse-lhe com as mãos na cintura. — Para que possas voltar à vossa casa de onde saístes.
— Sim, senhor! — confirmou o carroceiro. — Eu tenho que arrumar a carroça! — respondeu-lhe. — Pois, esta está a precisar de reparos, e tenho que tê-la em bom estado, para que eu seja digno de usá-la em meu trabalho.
Porquanto, viu o anjo a humildade e a franqueza com que falava o carroceiro e o cuidado que ele tinha com a sua carroça, e observou-lhe:
— Ó homem! Tu tens muito esmero pela tua carroça! — condoeu-se o anjo pela situação do pobre homem. — Afinal, percebo que tu sempre dela fez bom proveito, e sempre a estimou por ela ser o teu instrumento de trabalho.
— Sim, senhor! — corroborou o carroceiro. — Tenho esta carroça em muita estima! — disse contente. — Por sinal, ela me foi herdada do meu Pai! Ele a me legou com muito amor. Porque, eu sempre o tive em consideração e muito respeito, por saber ser d`Ele está carroça, o instrumento do seu trabalho, por ser Ele um construtor.
Com efeito, pois, o anjo deu-se em conta do grande coração que este homem possuía, e lhe falou:
— Tu carroceiro! — apontou-lhe o dedo. — Cuidaste sempre bem da carroça que lhe fora instrumento de trabalho! De fato, vejo que tu sempre foste com ela muito zeloso. E mesmo diante dos infortúnios que com o tempo poder-lhe-ia te suceder, ainda assim sempre prezaste em tê-la em bom estado.
— Esta carroça é obra de meu Pai! — falou o carroceiro alegre para o anjo. — Foi Ele quem a me deu! E eu o tenho em muita estima! — disse novamente. — Porque sei do amor que Ele para mim a fez, e a responsabilidade que tenho em prestá-la, e a incumbência que tenho em preservá-la.
Em razão disso, o anjo, então, encantado como o homem pronunciava aquelas palavras, viu nele (não só a estima que ele possuía por ela), mas também, o amor que ele tinha pelo seu Pai, que confiou-lhe a carroça como herança:
— Tu tens carroceiro uma grande chama de luz dentro de ti! Pois, percebo que ela é cada vez mais forte (tão forte que nem esta carroça que lhe dei consegue contê-la).
Por conseguinte, o carroceiro olhou ao anjo em seus olhos, e lhe disse:
— Agora sei de onde te conheço! Porque, sempre estivemos juntos! Visto que, a carroça foi obra de tuas mãos, e o Senhor a fez com muito amor. Tenho estado cuidando o melhor que consigo dela, de modo que, está sempre me foi o instrumento da tua obra, a tua morada eterna.
Ao passo que, o anjo, percebendo-lhe nos olhos a luz que irradiava, disse-lhe:
— Sim meu amado! Fiz-te esta carroça para que tu desse o teu melhor. Ou seja, tu não só deste o melhor do teu esforço e do teu suor, mas também, me preservou a obra! Embora Eu seja o seu construtor, a ela sempre estimei! E sendo tu agora o seu dono, a ti mais ainda considerei, por confiar-te para que dela fizesse bom uso.
Dado isso, o carroceiro, alegrando-se de estar diante do enviado de Deus, respondeu-lhe:
— Sim, meu senhor! — disse com ternura. — Concedeste-me esta carroça com amor! Porque, sendo eu tão filho de Deus quanto a ti, a mim permitiste usá-la, e a ti fazer dela instrumento da sua obra. Hoje, estou muito contente em poder devolvê-la! Uma vez que, ainda que eu não pudesse evitar o que a sucedeu em desastre — enquanto eu a tive em vida —, sempre busquei tratá-la como sendo parte de mim! Razão pela qual, em meu coração, eu sabia que um dia a devolveria ao seu legitimo dono.
Dessarte, o anjo, compadeceu-se do homem que a Ele em tão belas palavras e humildade lho falava, disse-lhe:
— Ó homem! Filho tu és do Deus vivo e verdadeiro que habitas dentro de ti em consciência e majestade! Sei que a esta carroça tu ao longo da tua vida vieste cuidá-la bem. Venho, pois, a ti buscar-te! — disse-lhe o anjo. — Haja vista que, sendo tu feito a semelhança do teu Pai Eterno, tu fizeste desta carroça o instrumento da vontade d´Ele. E, sendo tu igualmente a Ele em espírito, Ele fez a ti esta carroça como o instrumento da sua morada aqui na Terra. Por este motivo, a ti tenho em consideração, razão pela qual venho te buscar, para que juntos voltemos à casa a que sempre nos pertenceu, a casa onde habitamos (não em corpo), mas sim em espírito que é de onde nós provenhamos, e que é para onde estamos agora juntos a ir embora.
Dessa forma, o carroceiro deixou a sua
carroça a beira da estrada, e partiu com o anjo em direção ao cume da montanha
na qual ele já estava subindo, rumo à cidade celestial. Por fim, o corpo
estirado na beira do percurso, pereceu. No entanto, o espírito tornou-se a
voltar a ser mais uma estrela no firmamento, que brilhava radiante entre tantas
outras que no céu fazem morada junto ao Creador. Amém!
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