Aconteceu em um determinado dia muito frio de solstício de inverno, de um viajante, perdido, ficar perambulando pela praça de uma cidade, localizada no alto de uma montanha, em busca de uma hospedaria para se abrigar, após ter percorrido uma longa jornada extenuante de caminhadas e travessias entre vales e colinas.
Em vista disso, esse viajante, após conseguir se hospedar em um hotel que havia próximo a um pagode procurava entre os locais — que se reunia no centro da praça da cidade — se socializar, para poder obter deles respostas sobre um desconhecido de quem ele ouvira falar muito, e que tinha por fama ser um grande alquimista, que sabendo usar das forças sobrenaturais da natureza, se dispunha de bom grado a curar aos enfermos, e a fazer maravilhas com sua arte.
Por causa disto, curioso por ver o interesse do forasteiro em tentar achar o curandeiro, aproximou-se dele um ancião de muita idade, de modo que esse senhor demonstrando muita empatia, para ele disse:
— Jovem rapaz! Vejo que tu estás a procurar ao alquimista que há muito tempo não o vemos mais, aqui na nossa cidade, e que a nós nos beneficiou bastante com a sua arte, e com o seu encanto. O que tu queres saber sobre ele? — perguntou o velho.
— Senhor! — exclamou o peregrino. — Quero aprender com ele a arte da alquimia! — respondeu-lhe o rapaz entusiasmado. — De maneira que eu possa também ser capaz de curar os enfermos, e, por conseguinte, dessa forma servi a Deus com o meu talento.
Por sua vez, o velho, olhando-o com um ar depreciativo argumentou:
— Meu caro jovem! Tu és um belo rapaz! E nesta tenra idade que tens, muito sonhas e desejas por se aventurar e fazer maravilhas. Por isso, percebo em ti este grande entusiasmo! Mas, acredito ser isto coisa da juventude. Pois, a esta a razão ainda falta, e as emoções muito enganam.
Todavia, o rapaz, percebeu que o velho não o estava levando a sério. E, meio que envergonhado, retorquiu-o dizendo com muita satisfação:
— Senhor! Estou mesmo disposto a aprender com o alquimista a arte de curar pessoas e de poder fazer maravilhas! Por isso, vim de muito longe para conhecê-lo, e estou muito contente de poder estar nesta cidade, da qual ouvi tantos viajantes e peregrinos falarem dela, de modo que, a este lugar eu também sempre quis conhecer.
— Rapaz! — exclamou o velho. — Tu és muito engraçado. — insinuou dando um leve sorriso irônico. — Vejo em ti muito entusiasmo e força de vontade, contudo, ainda duvido que tu queiras mesmo com o alquimista aprender a velha arte da alquimia. Visto que, este é um segredo que só os iniciados conhecem, por terem sido instruídos em seus sagrados mistérios.
Diante disso, o rapaz, então, observando o velho com muita atenção, perguntou-lhe:
— Senhor! Quem és tu? Pois, o senhor me parece ser uma figura muito interessante, e de alguma maneira que não sei explicar, pressinto já tê-lo conhecido de algum lugar. Mas, ao mesmo tempo, sinto que o senhor está sendo muito sarcástico comigo. Tu tens algo a me dizer? — perguntou o rapaz desconfiado. — Conquanto, tenho um pressentimento estranho que tenho muito a lhe falar.
— Sou um velho carpinteiro — respondeu-lhe o ancião sorrindo — que há muito tempo mora nesta cidade. Já andei pelo mundo fazendo muitas obras. Mas, de todo modo, por ironia do destino, hoje vivo nesta mesma cidade na qual nasci, e que pretendo por aqui morrer. Entretanto, não se perturbe pelo meu jeito de ser! — disse o velho com um olhar profundo mirando os olhos do rapaz. — Pois, não sou uma má pessoa, e, percebo em ti, grande poder de realização.
Em razão disso, o jovem, dirigiu-se ao velho com curiosidade, e perguntou-lhe:
— O que o senhor sabe sobre o alquimista que tanto ouvi falar? O senhor o conheceu de fato? Ele te fez alguma cura, ou algo que tenha marcado positivamente ao senhor?
— Eu o conheci sim! — respondeu-lhe o velho esfregando as mãos frias buscando esquentá-las. — Este homem foi muito boa pessoa. — elogiou-o. — Graças a Deus não precisei me consultar com ele a despeito de nenhuma doença. — expressou novamente sorrindo. — Ele realizava muitas curas, e ajudava muito o pessoal daqui da cidade, e dos vilarejos próximos. Era um erudito! — exclamou extasiado. — Muito estudioso, porém pouco se interagia com o pessoal de uma maneira, digamos assim, mais intima. Ele era um ser um tanto solitário, porém muito dotado a realizar a sua arte com esmero.
Por esse motivo, o rapaz, alegrando-se pelo o que o velho contava, perguntou-lhe mais, demonstrando maior interesse na conversa:
— E como ele era? Como o senhor poderia me descrevê-lo? Quais são os hábitos dele? Onde ele morava? Quero ir conhecer a sua casa. — disse vibrante o rapaz ansioso por respostas.
Dado isso, o velho, então, descreveu-o. E indicou onde o alquimista morava:
— Ele era de altura mediana; tinha cabelos brancos um tanto compridos, mas não era muito dado a fazer amigos. Era uma pessoa relativamente tranquila, entretanto pouco afeita a se envolver com a comunidade — ainda que a ela tenha prestado muitos favores. O local no qual ele residiu, antes de ir embora, ficava logo ao final da estrada do vilarejo onde ele nasceu, porém, o alquimista cresceu aqui, nesta cidade. Era de família simples, não obstante, os seus pais eram pessoas muito trabalhadoras e lhe deram a melhor educação que poderiam lhe proporcionar. Todavia, eles sabiam ser o seu filho uma pessoa, por vezes, diferente dos demais, pelo grande interesse que ele demonstrava em aprender e estudar.
Isto posto, o rapaz continuava a demonstrar ainda mais interesse em saber sobre o alquimista. E ao velho interrogou:
— Mas e aqui na cidade? Onde ele morava? Qual a rua, a casa, o local em que ele trabalhava?
— O alquimista morava a duas quadras aqui da praça — respondeu-lhe o velho — à direita de uma velha choupana! — disse sorrindo coçando o queixo. — Ele tinha por residência uma casa simples de dois andares. Era um ser bastante solitário, mas não era mal visto pela comunidade. Também tinha por hábito a toda manhã sair e a caminhar até aqui, na praça, para poder observar os pombos a ciscarem pelo chão.
— Leve-me senhor, pois, até o local da residência dele! Porque quero estar lá para conhecê-lo.
— Como já te falei — tornou-lhe o velho a respondê-lo — o alquimista não mais está entre nós! Porém, posso te dizer, que ele sempre foi muito receptivo aos desconhecidos. Contudo, muito mais ainda receptivo aos que o buscavam para investigarem sobre a verdade, de modo a poderem conhecê-la, por meio de pesquisas, teorias e debates sobre diversos campos das ciências exatas e humanas.
— Pois estou muito interessado em conhecer a verdade através dos estudos, teorias e pesquisas cientificas! — retrucou o rapaz mostrando um entusiasmo ainda maior ao velho. — E quero muito poder servi-la com dignidade e fervor, mediante o meu talento que tenho de investigar os mistérios. Daí eu ter interesse em conhecer o alquimista, para que com ele eu possa aprender e me desenvolver espiritualmente.
Não obstante, o velho, que já se encontrava em pé escorado por um bastão, então, parou e observou o jovem rapaz com certa curiosidade. E a este falou:
— Sim! Vejo em ti muito entusiasmo e força de vontade! — tornou a dizê-lo novamente. — Todavia, a verdade cobra muito dos que a querem conhecê-la. — afirmou com certo desdém do rapaz. — Pois, não basta ao homem ter força de vontade e ardor para compreendê-la. — aludiu. — Há que também ter fé! — afirmou com um leve sorriso de deboche. — Para poder ir ao encontro dela (até mesmo onde a razão pode não enxergar).
— Pois tenho a ambos! — respondeu-lhe o rapaz confiante. — E, a verdade procuro-a com muito fervor, estudando, meditando e me espelhando em sempre aprender com aqueles que são iniciados nos mistérios sagrados.
— Sim! — corroborou o velho com o rapaz. — Vejo ser tu uma pessoa que tem os seus objetivos bem claros, e que está a conseguir alcançá-los, por já ter chegado aqui, vindo de tão longe. No entanto, percebo em ti que ainda há certo encanto místico com alguém que tu nem sequer ainda conheceu.
— Eu sou muito encantado pelas realizações deste alquimista que tanto ouvi falar. — replicou-lhe o rapaz. — Por ele tenho respeito e admiração! — afirmou. — Mesmo não o conhecendo. Se bem que, tenho certeza que pela fama e por tudo que dele ouvi dizerem, este deve por ser uma pessoa extraordinária, e um ser de elevado nível espiritual.
Por conseguinte, o velho, voltou a observar o rapaz com aquele modo e olhar que só os que já muito viveram conseguem notar, naqueles que estão ainda iniciando a sua jornada pelos caminhos tortuosos da vida. E a ele disse:
— Filho! O que posso mais lhe dizer é o seguinte: Tu tens pelo o que reparo muita força de vontade e poder de realização. — afirmou de novo o ancião notando a pro-atividade do rapaz. — Compreendo que de muito longe tu vieste para encontrar e aprender com o alquimista a sua arte. Entretanto, a ti só posso mais isso acrescentar: Não busques a quem tu não saibas que te quer por bem ou por mal. Mas, porventura, busques aqueles que a ti lhe instruirão a ser por pessoa mais sábia, e por espírito mais elevado.
Contudo, o rapaz, não entendeu o que o velho queria lhe dizer com o que ele lhe falou. E o indagou:
— Senhor! — disse confuso. — O que o senhor quer dizer com isso?
— A coisas que tu só saberás — meu caro jovem —, mediante a tudo o que tens ainda por aprender, com os desafios que a vida o testará. — respondeu-lhe o velho se despedindo do rapaz. — E aprendendo com ela, tu entenderá que a vida te será ao longo da tua existência na Terra por mestre, no que com ela tu reconheceres como sendo verdade. E também lhes será por desafio, no que tu se negares a dar-lhes valor.
Porquanto, o rapaz ficou pensativo sobre o que o velho lhe falou. E para ele fez uma última pergunta enquanto este se ia embora:
— Senhor! — exclamou. — Mas o senhor sabe onde está este alquimista? Pois, o senhor me disse muitas coisas, entrementes, não me respondeu se sabes onde ele de fato se encontra.
— Tu o encontrarás primeiro dentro de ti! — replicou-lhe o velho ao longe. — E, após encontrá-lo, tu saberás que estás por ele sendo feito por discípulo, e ele a ti se fazendo por teu professor. Antes de buscares o que tu procuras nos homens, recorra a Deus, que Ele te fará chegar aonde tu desejas. — e partindo, deu o velho um aceno ao rapaz com a mão e se foi.
Em função disso, o rapaz, sentou-se em um banco da praça e ficou a pensar. Estava triste por não ter encontrado o alquimista que tanto queria conhecer, e com ele aprender. Contudo, pensando sobre o que o velho lhe dissera antes de partir, reconheceu que havia verdade no que ele falava.
Passado mais um tempo e longe de sua casa, o rapaz, então, decidiu por partir da cidade onde por pouco tempo permaneceu hospedado em um antigo hotel barato. Ele conheceu a casa onde o alquimista morava, e foi até o seu local de nascimento em um vilarejo próximo a cidade, como o velho o havia contado. Porém, estava pouco empolgado por não ter conseguido conhecer o alquimista, e decidiu, então, voltar a sua terra natal, e meditar melhor sobre o que ele tinha conversado com o ancião.
Destarte, aconteceu que estando o jovem no caminho de volta para sua casa, ele encontrou a um homem já de meia idade — semelhante ao que o velho o havia descrito —, que estava em uma pequena cidadezinha a atender pessoas, de sorte que, muitos doentes a este senhor o procuravam, para que ele — devido a sua boa-vontade — prestasse-lhes o seu atendimento médico. O rapaz, vendo que havia muitos pacientes a serem atendidos por aquele doutor, então, foi ver o que se passava. E perguntando a um dos locais, se expressou:
— Olá! O que está acontecendo aqui? Vejo que muitos estão enfermos! — observou. — E que estão a consultar-se com aquele médico.
— Sim! — respondeu-lhe o nativo. — Este quem nos atende é um médico muito bom! — elogiou-o o homem. — Ele vive de fazer caridade às pessoas mais humildes, que não possuem recursos financeiros para pagarem por atendimento. Muitos a ele recorrem quando o encontram, pois, ele é reconhecido de longe por muitas pessoas que por ele foram curadas. Daí que vem a sua fama de bom doutor.
Por tudo isso que o nativo lhe falou, o rapaz, sentiu no peito um grande aperto. E logo consigo pensou:
— Será este o alquimista que estou a tanto tempo procurando-o?
E, dirigindo-se ao encontro do médico, foi o rapaz a ele fazer algumas perguntas:
— Desculpe-me interrompê-lo senhor! — proferiu o rapaz meio trêmulo devido à forte emoção, enquanto o médico se despedia de um paciente. — Com todo respeito, o senhor é aquele famoso alquimista há quem muitos se referem como sendo um curandeiro, e que faz maravilhas com sua arte?
— Nada disso meu caro jovem. — aludiu. — Eu sou só uma pessoa que a muitos procuro ajudá-los com o meu talento! — disse-lhe o médico humildemente sorrindo. — Mas, não faço maravilhas como dizem por aí. Sou apenas um médico! E tenho por trabalho ajudar aos mais necessitados. Pois, esta foi à missão da qual fui incumbido de fazer neste mundo, ajudar as pessoas que precisão de atendimento.
Logo, o rapaz com um brilho no olhar e achando quem tanto vinha procurando, se expressou:
— Estou há muito tempo te procurando! — disse ele extasiado tomado por uma forte alegria no coração. — Fui até a cidade que me disseram que o senhor residia, e lá estive a perambular para ver se lhe encontrava para poder conhecê-lo. Hoje estou contente de tê-lo achado! E muito eu quero aprender com o senhor.
Porém, o alquimista, então, ao rapaz observou-lhe e perguntou:
— O que queres comigo aprender?
Entrementes, o rapaz ouviu com certo distanciamento a maneira pela qual o alquimista o interpelou, achando-o um pouco frio pela forma que ele falou. Ainda sim, confiante, retorquiu-lhe o jovem demonstrando certo acanhamento:
— Alquimia! — respondeu-lhe o rapaz enérgico. — Estive a meses procurando pelo senhor para que pudesses me ensinar a tua arte, de modo que eu fosse pelo senhor instruído em praticá-la. Logo, não sei mais nada além do que o senhor pode me ensinar com a sua sabedoria.
Por sua vez, o alquimista percebendo a atitude confiante do rapaz, respondeu-lhe:
— Eu Sou um médico que faço o que muitos dizem serem maravilhas, ao conseguir ajudar a inúmeras pessoas a se curarem. Mas, faço isto, meu caro rapaz, porque estou exercendo o dom espiritual que eu sempre soube ser capaz de aplicá-lo aos mais necessitados! Pois, ouvindo aquele que em espírito e verdade dentro de mim sempre habitou, é ele quem de fato, através de mim realiza a sua alquimia. Portanto, meu jovem, eu sou apenas o instrumento de trabalho do meu guardião.
— Mas este a quem o senhor se refere e diz ser o seu guardião, é alguma espécie de anjo? — indagou-lhe o rapaz curioso e extasiado. — Porquanto, tu disseste ser ele quem através do senhor realiza as maravilhas do teu ofício, curando as pessoas, e que tu lhe és por instrumento da sua obra. Isso que o senhor faz, então, é de algum modo algo sobrenatural? Daí de vir a tua fama?
— Se tu queres ser um alquimista — disse-lhe o médico com seriedade —, tu deves primeiro descobrir se isto é o que de fato ele se propôs através de ti fazer. Não é a mim que tu deves recorrer para aprender sobre a arte de curar aos enfermos, mas, por outro lado, ao verdadeiro e único mestre que é superior a nós que tu deves buscá-lo adentrando primeiro dentro de ti, para te iniciares na jornada do autoconhecimento e dos mistérios sagrados.
Diante disso, o rapaz atencioso ao que o médico explanou-lhe, questionou-o:
— Mas e se em todo o caso, este mestre a quem o senhor se refere como sendo um guardião, quer que eu a ti recorra para poder aprender contigo ao trabalho que ele pode fazer através de nós? Não seria, então, da vontade dele, que o senhor me ensinasse à arte que ele através de nós pode com a sua inspiração, obrar?
Neste instante, percebeu o alquimista no jovem rapaz bastante perspicácia e força de vontade em querer aprender, o seu tão nobre oficio. E respondeu-lhe:
— Filho! Tu tens pelo o que vejo muita força de vontade em estudar e aprender! E por ter a mim procurado por tanto tempo, encontrando-me agora, tu já provaste que és muito persistente e determinado em alcançar o teu objetivo. Não sei se o meu mestre interior, que me faz ser capacitado a realizar as obras que faço, quer que eu a ti ensine a sagrada arte da medicina. Mas, o que posso a ti lhe dizer, é que tu tens que recorrer-lhe em seu íntimo meditando, para que assim, deste modo, tu possas através do teu silêncio interno, então, saber se estás mesmo preparado para tal empreendimento! Pois, este é um trabalho que exige muita dedicação e esforço. E, há que se conviver sempre com a sombra da morte, que ao médico surpreende quando ele menos espera, levando o seu paciente em direção ao juízo final, onde a alma será julgada e sentenciada por tudo aquilo de bom e ruim que ela cometeu ao longo da sua vida na Terra.
— A certeza de querer aprender eu a tenho! — replicou-lhe convicto o rapaz ao alquimista. — Pois, a muito venho te procurando. É o senhor quem deves a Ele ouvir, e perguntar se a mim deves ensinar o que a ti ele te ensinou a fazer com tanto trabalho e esmero.
Logo, a bem dizer, o médico olhou o jovem rapaz com serenidade, pois notava nele realmente a determinação em estudar alquimia e aprender medicina. E propôs-lhe um desafio:
— Então vamos ver! — disse-lhe, de certo modo, instigando-o. — Se tu me responderes o que eu a ti lhe perguntar, saberei se devo ensinar-te o que a mim tu pedes para lhe instruir. Se tu não me responderes conforme me for revelado, então pedirei que tu se vás! Pois, não poderei ajudar-te a encontrar o que tanto desejas, e a fazer o que tanto tu queres obrar.
Desse modo, por sua parte, concordou o rapaz com o termo do alquimista, e se pôs pronto a responder-lhe, ao que ele estava esperando do médico querer escutar:
— Estou pronto senhor a te responder, o que me perguntares! É só falar, que ao senhor alegremente responderei.
— O que o homem tem que a ele falta? Mas não tem o que ele deveria ter?
— O que o homem possui e a ele falta, é a fé! E o que ele não tem e deveria ter, é a certeza de poder encontrar dentro de si o que ele tanto procura. E achando, realizar o que a ele foi proposto neste mundo obrar. — respondeu-lhe o rapaz com uma lucidez sem igual.
Consequentemente a resposta do viajante, o alquimista observando-o parado na sua frente, confiante, percebeu nele que tão maravilhosamente lhe respondeu, era digno de aprender o oficio da medicina e da alquimia! Pois, a medicina é uma arte espiritual oriunda da alquimia, por ser iniciática no conhecimento esotérico do corpo humano, sendo, portanto, daí, que advém a sabedoria velada no interior do homem.
Seguidamente, por sua vez, o médico replicou-lhe:
— Tu respondeste muito bem meu caro jovem! Fico feliz de ter encontrado alguém que realmente é vocacionado para aprender obra tão bela quanto maravilhosa que é à prática da medicina, e realizar o mais difícil ofício que existe que é cuidar de pessoas e salvar vidas.
Diante do elogio, o rapaz alegrou-se de o médico lhe ter aceitado por discípulo. E para ele falou:
— Eu que fico agradecido de o senhor estar disposto a me ensinar tão maravilhosa arte a qual o senhor exerce! Uma vez que, sendo o senhor instrumento da vontade do Pai, és tu também a Ele fiel e servo em espírito! De maneira que, só pode a humanidade encontrar a Deus, quando ela dentro de si O busca; e só pode Deus realizar a Sua obra através da humanidade, quando a mesma a Deus se permite fazer o que o Creador se propôs por meio dela obrar.
Para tanto, o médico vendo no rapaz a força de espírito que ele dispunha, se alegrou. E comentou:
— Sim! — exclamou. — Tu disseste bem meu jovem rapaz. Tu o tens por mestre, e nós o temos por Santo e protetor! Pois, Deus é quem faz a obra! E o homem a Ele só serve como instrumento da Sua vontade, e força do seu querer. Não obstante, para que isso seja possível, tem o homem que aprender a ouvi-Lo em silêncio dentro de si. E ouvindo-O, ele conseguirá realizar grandes obras! Portanto, é desta forma que o homem será uno com o Pai na unidade do Espírito Santo. E o Pai, desse modo, será feito verbo no filho, de forma que ambos será uma só carne, e poderão fazer no mundo, o que Deus quer nele construir e realizar.
Em seguimento ao que o alquimista lhe falou, o rapaz, empolgado, queria por logo começar a aprender o oficio da medicina, e se aprofundar nos conhecimentos sagrados da alquimia. E ao médico perguntou:
— Senhor! Quando poderemos começar os estudos sobre a alquimia?
— Já o começamos desde o momento que tu chegaste! — respondeu-lhe o alquimista. — Antes de tu chegares, tu já estavas praticando-a. Agora que me encontraste, passaste a um nível sequente ao que estavas anteriormente em sua peregrinação. Pois, por objetivo tinha de me encontrar para aprender tão esmeralda arte! Agora, façamos por dar continuidade ao caminho que estamos a trilhar.
— Mas o senhor, então, ainda está a trilhar neste caminho? — indagou-lhe o rapaz. — Eu pensava que o senhor já o tinha trilhado, por já seres conhecido pelo seu ofício.
— Este é um caminho que sempre estaremos a trilhá-lo! — respondeu-lhe o médico dando tapas no seu ombro. — Dado que, o mestre é tão aprendiz quanto o discípulo. Se não fosse assim, não haveria por mestres a ensinar, e nem a discípulos a aprender. O final da jornada está em realizar a missão em que através de nós o Pai se propôs a cumprir. E nós, a cumprindo com esmero, haveremos, pois, de sermos recompensados a ser com Ele, um só corpo e espírito. Além disso, estaremos integrados em seu Ser (não mais como potencial da sua vontade), entretanto como essência divina da Sua sabedoria.
— Mas se fazemos a homens mestres — insinuou-lhe o rapaz —, por que é tão difícil do homem encontrar a Deus? Mesmo que tenhamos o homem por mestre, será que porventura, ele a Deus o encontrou?
— O homem só é mestre — respondeu-lhe o alquimista — quando ele se permite entregar-se a Deus para através de si agir, segundo a Sua vontade. O homem não deve recorrer ao homem como seu guia. Mas, por outro lado, aos que tomado pelo Espírito Santo possa aos seus semelhantes ensinar-lhes aquilo que o Pai em verdade e amor a eles ensinou, por tê-Lo encontrado antes meditando no silêncio dos seus corações.
Por conta disso, o rapaz, maravilhava-se por perceber no alquimista grande sabedoria e destreza com as palavras. E com ele mais queria aprender:
— Por que, então, de tantos se referirem a si mesmos como sendo mestres, se estes não encontraram ao Pai meditando e ouvido os seus corações? Mas, por outro lado, fazendo eles a sua arte, se julgam superiores e peritos nela? Ainda que não saibam ou não acreditem que quem através deles concebe fazer o que sabem, é muito maior do que eles.
— Estes são tolos! — respondeu-lhe o alquimista. — Pois, eles só fazem o que são capazes por mera ação mecânica. Ou seja, de qualquer forma, sendo soberbos em fazer o que obram, eles não conseguem realizar algo de grandioso no tocante à arte que deveriam produzir! Dado que, para que haja esmero e beleza no que se faz ha que se entregar ao Pai a sua obra, e não se vincular ao que se pratica julgando-se dominante no que haja por construir por orgulho ou mesmo ostentação.
Por ora, o rapaz se emudeceu por um momento, de maneira que em seu silêncio ele refletiu sobre o que o alquimista lhe falará. E acrescentou:
— O senhor realmente possui muita sabedoria! Razão pela qual, vejo que a no senhor muita humildade e dedicação no seu trabalho. No entanto, também percebo que há no mundo tantos outros que semelhante arte praticam exercendo a medicina, que não possuem a mesma destreza e o mesmo encanto e beleza que o senhor a ela se dedica. Por que lhes é difícil o exercício da humildade? — interpelou o jovem rapaz.
— Eu dedico ao Pai Eterno a minha obra! — respondeu-lhe o alquimista a duvida. — Entretanto, os homens exercitam o que pensam engendrar pelas suas faculdades mentais, e ignoram o que lhes é revelado em espírito e verdade por Deus em seus corações! Porque, somente em espírito e verdade o homem pode se realizar totalmente como homem. Uma vez que, somente reconhecendo dentro dele quem de fato nele habita — o Divino Espírito Santo — pode o homem prestar o devido respeito a Deus, por desse modo já conseguir perceber ser o Creador, quem por meio dele realiza a obra da Sua vontade.
Entrementes, o rapaz se mostrava cada vez mais encantado com tudo o que o médico ensinava-lhe, e se propôs com mais convicção e vontade com ele aprender, demonstrando uma sede insaciável por respostas que o consumiam a alma, no esforço de encontrá-las por meio de suas pesquisas e estudos sobre diversos tipos de patologias, tanto como, também, na metafísica que ele fora com o médico se adestrando no decorrer do tempo.
Conseguintemente, após concluir os seus estudos com o alquimista, o rapaz, já formado pelo seu grande professor, retornou a sua cidade natal (assim como o alquimista também o fez), e realizou grandes obras que o fizeram ficar reconhecido pelas descobertas científicas na cura de doenças, e prevenções das mesmas, por meio da elaboração de fármacos e outras substâncias medicinais, que atuavam no combate desses patógenos. Também, ele conseguiu com o passar dos anos, aprender sobre diversos campos de estudo relacionados às ciências herméticas, instruindo-se com paciência e perseverança no aprendizado destes mistérios sagrados.
Porquanto, infelizmente, aconteceu, porém, de o alquimista que foi instrutor do então iniciado, vir no decorrer de um longo tempo de serviços prestados a comunidade, falecer. E, sabendo por meio dos viajantes e andarilhos que viviam a peregrinar pelo mundo, sobre a notícia da sua morte, o seu discípulo dirigiu-se ao vilarejo, onde, durante a sua busca espiritual primeiro ele foi, tentando encontrar aquele alquimista de quem ele tanto ouvia falar, e que o maravilhava e o fazia sonhar, por praticar a sua arte de curar pessoas.
Em sequência, chegando ao vilarejo, o iniciado encontrou um grande marco que os locais haviam feito em homenagem a tão ilustre pessoa que a eles tanto ajudou. Dessa forma, se aproximando do memorial — onde puseram lá enterrado o seu mentor —, ele agachou-se e chorou. Em seguida, ao prestar os seus pêsames, com a mão sobre a lápide onde enterraram o seu professor, veio até ele — de forma misteriosa — uma luz, que se compadeceu da sua tristeza e falou:
— Por que choras por quem nunca morreu? — interrogou-o o forte clarão.
— Eu choro por quem partiu. — respondeu o iniciado ao se levantar notando ser aquela luz sobrenatural um anjo. — Esta foi à pessoa que me orientou a ser hoje quem eu me tornei! E, por ele ter ido sem que eu me despedisse, fico entristecido de tê-lo perdido.
— Ele nunca partiu! — retorquiu-lhe a luz que parecia um homem vestido de branco. — Ele está dentro de ti! — afirmou o forte clarão que reluzia como ao sol. — Visto que, tudo o que com ele tu aprendeste, no decorrer deste longo tempo de iniciação, agora, tu realizas com amor e maestria. Portanto, ó homem, tu foste para ele filho, assim como ele foi para ti Pai. Ou seja, tu és parte do seu espírito! Dado que, o velho alquimista te passou o bastão na arte em que tu foras por ele iniciado, e que agora, ficaste responsável de dar continuidade a obra a qual ele fazia e a ti ensinou. Logo, é por tudo isso, que mediante a tua pessoa, hoje se realiza em verdade e beleza a continuação do seu trabalho, por meio de todos que dele se beneficiaram e se beneficiam, através do seu tratamento e acolhimento como doutor.
Por consequência ao que ouviu, então, o iniciado suspirando fundo e pensando no que aquela luz forte e misteriosa com ele comentou, seguidamente, colocou as suas mãos na cintura, olhou a lápide e o monumento com admiração e se exprimiu:
— Sim! — exclamou. — Tu tens razão no que me disseste! — corroborou. — Pois, este meu mestre dentro de mim vive, assim como eu nele estou presente em espírito. Tenho muito ainda a fazer! — anunciou. — Uma vez que, o que ele me ensinou em verdade hoje realizo com muita dedicação e amor. E o que ele me disse em segredo, hoje compartilho com os homens em obras. Quero sempre honrá-lo! — afirmou. — E honrando-o, estarei fazendo com que a memória dele nunca se apague. Haja vista que, pelas realizações que o homem faz, este é reconhecido pela sua força de caráter e vontade de aprender; e por aquele quem lhe dirige os caminhos, este lhe é seu mentor e senhor.
— Tu tens mesmo ainda muito a fazer! — motivou-lhe a luz que brilhava como uma estrela. — Por certo, tu continuarás a tê-lo por teu mentor, no decorrer de toda a tua vida, pelo que ele a ti educou.
— Sim! — corroborou o iniciado. — Eu sou ao meu mestre grato por tudo o que ele me ensinou a fazer.
— Deixa, pois, agora o corpo onde foi o seu mentor sepultado repousar, e volta tu para a terra de onde viestes! Ademais, lá há muito que tu tens por fazer. Porque, sendo tu por seu discípulo, é pelos teus feitos que preservarás a memória desse a quem te instruiu, dando continuidade no tratamento das enfermidades que assolam as pessoas.
Por fim, o já iniciado alquimista, se consolou por ter perdido o seu professor (não em espírito), mas fisicamente. Conquanto, ele aprendeu que a vida continua, e que a melhor maneira de se preservar a memória de quem não mais habita em corpo com quem está encarnado, é passando adiante os valores que essa pessoa ao longo da vida cultivou e ensinou. Assim é a vida do homem! E o homem só se faz ser reconhecido por sua verdadeira obra, quando esta é realizada por Deus mediante o Cristo que habita em nossos corações! Visto que, é o Divino Espírito Santo quem através do homem pode fazer maravilhas imensuráveis e que prevalecerão por todos os tempos e afins.
Finalmente, chateado e entristecido, se despediu o iniciado do memorial erigido ao seu mentor, e partiu de volta para sua cidade. Porém, consigo pensava:
— Diante de tudo isso que já passei, me sinto honrado por ter sido feito homem por tudo o que aprendi com o meu mestre. Portanto, a muitas pessoas hoje eu as curo através do meu ofício e de minha arte, e posso ajudá-las com o meu trabalho. Sou filho da Santíssima Trindade! Assim, como sou do Divino Espírito Santo o seu instrumento de trabalho. Vivo, pois, agora a obrar não por minha honra e glória, mas, em todo caso, pela de meu Pai, que me capacitou a ser, neste mundo, a extensão da sua vontade. Amém!
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