Devia um homem uma quantia de dinheiro para outro homem, por tê-lo emprestado com o intuito de empreendê-lo em seu próprio negócio. Além do mais, ficou acordado entre ambas as partes, que o tomador pagaria o crédito a troco de usura ao seu credor. Porém, aconteceu que não conseguindo o primeiro homem pagar o segundo que lhe emprestou, procurando-o, comentou:
— Dêvo-lhe, mas não tenho como pagar-te! Peço-te que me dê mais tempo, para que eu possa levantar o dinheiro e quitar-lhe a dívida.
— A ti já lhe dei tempo suficiente para pagar-me o empréstimo! — respondeu-lhe o segundo homem. — E tu ficas a me enrolar pedindo mais tempo. O que eu posso fazer por ti, é diminuir a cobrança dos juros sobre o capital emprestado! Ou seja, embora eu compreenda a sua situação difícil, posso — a partir do prezado momento — te conceder mais um mês para que tu me quites a obrigação. Caso contrário — falou com franqueza o banqueiro — ter-de-ei que intimá-lo sobre juízo a me ressarcir o dinheiro, confiscando-lhe os teus bens, de acordo com a lei vigente.
Em vista disso, foi acertado entre o tomador e o credor que ele cobraria um ágio menor, a partir do firmado acordo, até o vencimento do renegociado contrato. Porém, decorria que o primeiro homem não sabendo como ganhar o dinheiro para pagar o segundo homem (dado o seu empreendimento ter falido), em oração, pediu a Deus que lhe abrisse um caminho, de modo que ele pudesse conseguir o dinheiro para pagar o débito.
Diante disso, Deus, ouvindo o desespero do devedor, enviou-lhe um mensageiro que sussurrando em seu ouvido, lhe falou:
— Ó homem! Por que tu se desesperas em não ter o dinheiro para pagar a dívida que contraíste com o banqueiro?
— Estou amargurado por não ter conseguido dar ao dinheiro — respondeu-lhe o endividado — um bom destino para o qual eu o contraí emprestado do capitalista! Afinal, eu tinha em mente abrir um negócio de venda de óleo de azeite, e o comércio não deu certo, por não ter tido clientela, e acabei por perder todo o dinheiro que nele empatei.
— Não se lamente pelo o que aconteceu! — retrucou o mensageiro. — Tu fizeste certo em ter tentado ganhar a tua sorte com o seu próprio empreendimento, o qual se aventurou em abri-lo, e em lhe corresponder conforme as tuas expectativas! Contudo, pecou em pegar o dinheiro emprestado do agiota, para poder empatar no negócio e depois pagá-lo com o suposto retorno, que acreditavas conseguir vendendo o azeite.
— Como assim? — perguntou o endividado. — Por que fiz errado em ter pegado dinheiro emprestado, para poder empreender no comércio?
— Tu não sabias? — replicou-lhe o mensageiro. — Que quem pede emprestado é servo de quem lhe empresta? Devias de ter aprendido com as escrituras sobre a sabedoria da vida! Uma vez que, não deves fazer nada sem antes consultar a sapiência que dá ao homem, o entendimento de todas as causas.
Por esse motivo, o endividado por um instante refletiu sobre o que o guardião lhe disse, e redarguiu-o:
— Mas eu acreditava estar fazendo o certo! — justificou-se. — Dado que, estava crente no meu potencial de conseguir extrair lucros da empresa que abri, e que teria condições de pagar o banqueiro que me emprestou o dinheiro para poder inaugurar o comércio, e que ainda me sobraria alguma renda para que eu pudesse ir me mantendo, e continuar tocando o negócio.
Consequentemente, o mensageiro repreendeu ao homem, e depois o ensinou da seguinte forma:
— Tu devias antes ter consultado as escrituras! — disse-lhe novamente o anjo. — Além do mais, tu tinhas que se informar melhor do que pretendias fazer. Uma vez que, tudo o que o homem tem em mente empreender, só lhe é benéfico, se isso partir do espírito que nele sopra sabedoria e verdade, para que ele possa realizar as obras de Deus, e não as da sua vontade. Afinal, não foi isso o que o Cristo falou: “As obras que faço, não sou eu que as faço; é o Pai em mim que faz as obras: de mim mesmo, eu nada posso fazer”.
— Tá! — exclamou descrente o empresário falido. — Mas o que eu posso fazer daqui pela frente? — perguntou deplorado. — Se não tenho mais o dinheiro para pagar o banqueiro; e não tenho meios para ganhá-lo com o meu trabalho? Afinal de contas, estou financeiramente quebrado.
— Meios de ganhar o dinheiro com o teu trabalho tu tens! — contrariou-o o guardião. — Se bem que, o homem que é crente em Deus e obra segundo a Sua vontade, sempre encontra um meio de tirar o seu sustento, e de fazer obras que dignificam o seu caráter! Por vezes, só tem sucesso — aquele que trabalha orientado em espírito e verdade pelo Creador. E só pode obrar inspirado, quem ao Altíssimo em seu íntimo recorre, de modo a confiar-lhe a abertura dos seus caminhos.
— E qual é o meu potencial para que eu possa realizar a obra do Creador, e ter o meu caminho aberto, e o meu caráter honrado e dignificado através das minhas obras?
— Tu saberás — respondeu-lhe o mensageiro orientando-o — quando dentro de ti, meditando e ouvindo o seu coração, encontrar a joia que lhe está em oculto! De tal sorte que, achando-a, revelar-se-á a consciência que a todas as coisas conhecem, e que te dirá onde tu poderás ganhar o teu sustento.
Entretanto, o homem não cria no que o emissário o havia orientado, e perguntou-lhe desconfiado e duvidoso do que ouvirá em seu íntimo, falá-lo:
— E como eu posso encontrar a esta joia, que dentro de mim está em oculto, se ela está velada por camadas e camadas de ignorância que me impedem de acessá-la? Por certo, sou um perdedor, por ter arruinado e fracassado em empreender o meu próprio negócio.
— Nada disso! — replicou-lhe o anjo. — Tu a acharás, quando olhares para dentro de ti meditando e ouvindo em silêncio o seu coração! Além do mais, descobrindo-a, tu saberás ser filho da luz, e ela obrará mediante a tua consciência, intuindo-te o que tu deverás fazer de bom e justo, de maneira a ser útil ao próximo por meio do teu trabalho.
— Mas como saberei se a esta joia que me está em oculto, eu a encontrarei? — redarguiu-lhe o homem demonstrando desesperança. — Se nunca a vi e nem sei como ela é?
— Ó homem! Tu deves ouvi-la pulsar dentro de ti, a partir do teu silêncio interno! — instruiu-o o mensageiro. — E ouvindo-a com atenção, saberá que ela te orientará no melhor caminho que deverás tomar. Logo, por assim dizer, tu perceberás que as instruções que ela te passar, é o que edificará a tua alma em luz e sabedoria, de modo que, será daí por diante que deverás partir em tua jornada na realização das tuas obras.
— Mas só tenho um mês para pagar o banqueiro! — disse o endividado ao emissário com penúria. — E se eu não o pagar, este mandará confiscar a minha propriedade, e, quem sabe, até prender-me, por não quitar toda a dívida que contraí com ele acrescida de juros.
À vista disso, o anjo, então, orientou ao homem novamente a buscar em seu silêncio interno, a sua joia, que no intimo do seu oculto, lhe responderá:
— Ouve a luz que brilha no teu interior, e ela a ti intuirá, uma solução para o teu problema! Com efeito, fazendo desse jeito, ela lhe encaminhará a fazer o que tu precisa realizar para poder ter o dinheiro da dívida e pagar ao banqueiro.
Isto posto, o mensageiro se foi. E o homem refletindo sobre o que o emissário o havia ensinado, começou a ficar em silêncio e a ouvir o que tinha o seu coração a lhe dizer. E por horas ficou assim. De fato, após ter passado um bom tempo meditando em contemplação e interiorização, veio até ele uma ideia, que seguidamente ele pôs rapidamente a implantá-la — posteriormente conseguir despertar a sua consciência —, a joia escondida no seu coração.
E num grande ímpeto, falou:
— Eureka! — disse levantando-se do chão, no qual se encontrava sentado meditando.
A ideia que o homem intuiu, era para que ele buscasse vender (não o azeite que ele tinha tentado comercializar e que não deu certo). Mas, por outro lado, ele deveria fazer jarros de barro para armazenar o azeite. E assim, logo se pôs a fazer!
Por conseguinte, buscando no fundo do seu terreno a argila que havia perto de um riacho que passava entre um bambuzal, começou a moldá-la com suas mãos. E moldando-a, fez vasilhames de todos os tamanhos e feições. Em sequência, cozeu-os num forno improvisado que ele havia fabricado, também, no fundo do quintal, abastecendo-o de lenha que ele pegou do bambuzal e do bosque que havia próximo a sua casa, onde o riacho percorria. Por fim, depois de ter cozido os vasilhames, ele os pôs a vender na frente da sua casa.
E, á medida que iam passando algumas pessoas e viajantes pelo local, estas se maravilhavam com os vasilhames que o homem havia feito com suas próprias mãos, de modo que muitos dos que se admiravam, compraram dele esses vasilhames — não só para armazenar azeite, como também, para ascender lamparinas ou mesmo cozinhar alimentos.
Finalmente, aconteceu de chegar o prazo dele acertar a sua dívida com o banqueiro, de forma que o oleiro em posse do dinheiro, se dirigiu até o seu escritório, e pagou-lhe o empréstimo e mais os juros devidos.
A bem dizer, surpreso, o financista perguntou ao homem donde ele tinha conseguido o dinheiro para quitar a dívida, e ele lhe respondeu:
— Consegui fabricando e cozendo vasilhames para armazenar óleo de azeite!
Diante disso, interessado, o capitalista foi até o local da sua residência, e comprovou o êxito do empreendimento daquele empresário, e lhe propôs:
— Vejo que tu conseguiste muito sucesso nesta tua empreitada, e que os negócios estão indo bem! — observou. — Tu não queres pegar mais um empréstimo para alavancar o seu empreendimento, e pagar a juros baixos e por um tempo maior?
Não obstante, o oleiro se lembrando do que o mensageiro lhe falou, ao banqueiro respondeu:
— Fico grato pela tua oferta! — disse sorrindo. — Mas, o dinheiro dos vasilhames que vendo, já me são o suficiente para que eu consiga continuar investindo no meu negócio, e ter bons rendimentos.
Por fim, o usurário agradeceu ao homem por tê-lo quitado a dívida. E se despedindo, disse-lhe:
— Pois bem, agora me vou! — aludiu. — Desejo-te boa sorte com a sua olaria, e agradeço-te por teres honrado com a sua obrigação. Se precisar contrair um novo empréstimo, sabes aonde recorrer, e que poderás contar com a minha boa vontade de financiá-lo. — exprimiu sorridente e convidativo. — Além do mais, as minhas portas estão sempre abertas! Quando decidires expandir o teu negócio, não hesite em vir pedir-me o financiamento, e eu lhe concederei com todo prazer.
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