A Tempestade

 

 

Em um dia de verão ensolarado e céu azul, estava um homem passeando em uma praia de muitas belezas naturais. E, estando o vento suave, e a brisa que vinha do mar agradável, ocorreu de subitamente uma tempestade se formar no horizonte. Em segui­mento a formação desse temporal, o mar, por sua vez, começou a ficar agitado, e as ondas em grande furor se lançavam na orla da praia, com muita força e violência, razão pela qual, o homem vendo essa mudança súbita do tempo, indagou a si mesmo em pensamento, se afastando devargarinho das margens da costa:

— Como é que pode o tempo mudar assim tão depressa? — ob­servava a ressaca do mar se lançando nos rochedos. — Estava agora a pouco tão belo o litoral, e tão agradável o clima; a brisa soprava, os coqueiros balanceavam; tudo parecia ser da mais bela e harmoniosa melodia, e, de repente, o tempo muda substancialmente... Que coisa!

Em sequência ao seu monólogo interno, aconteceu de vir até esse homem, um anjo que apareceu para ele como a um flash de luz. Por conseguinte, materializando-se a sua frente em forma humana, com ele comentou:

— O tempo é como a vida do homem: Ele muda quando menos se espera! Certamente, hoje o homem goza de prestigio e favores; já amanhã, por outro lado, se entristece e se entorpece com a dor de consciência, por falta de prudência em suas escolhas.

Ao passo que, surpreso, e mesmo um pouco — por assim dizer assustado —, averiguou o banhista ser esse quem lhe apareceu, afir­madamente um ser angelical, de modo que retrucou ao espectro luminoso que se materializou:

— E por que na vida dos seres humanos a tantos altos e baixos? Oras, por que a raça humana é tão factível de ser a esses humores suscetíveis?

— As pessoas devem aprender com a oscilação destas disposi­ções de seus estados de ânimo. — respondeu o guardião de forma bastante objetiva. — Uma vez que, a vida é feita de sucessíveis alter­nativas, haja vista ser através delas, que cada individuo pode conhe­cer a si mesmo, e, consequentemente, perceber em si o bem e o mal. Posto que, estando o ser humano transitando entre altos e baixos, ele está aprendendo a vivenciar as experiências do seu cotidiano. E a conhecer, por sua parte, o seu potencial, tanto quanto, também, a se perceber como sendo o inimigo de si próprio, ao se frustrar com as más ações de sua própria preferência, que resultarão, por fim, em fracassos, ou seja, prejuízo para si mesmo.

Destarte, houve, então, um momento em que o homem olhando toda aquela reviravolta que estava se passando na praia devido a forte tempestade, se retirou. E, afastando-se dela em direção a um quiosque em companhia do anjo, durante o percurso da caminhada, perguntou-lhe:

— Sendo tu divino e um dos deuses que habitam no firmamento — ressaltou a natureza celestial do mensageiro — como é que eu posso saber, doutra sorte, se, porventura, não sou também um de vós? Que está caído e perdido neste mundo, preso e sofrendo?

— Oras! — exclamou. — Tu não és um de nós! — respondeu o emissário afirmativo. — Contudo, em ti a tanta luz, quanto a nos deuses que se encontrão no céu! Pois, sendo deuses e homens todos creados pelo infinito poder de Deus, estamos a Ele submetidos atra­vés de nossas opções (tanto por aquilo que fazemos ou deixamos de fazer). Portanto, sendo Deus Eterno — haja vista Ele ser luz e som­bra em toda a sua obra — nós somos à força da vontade d´Ele, quer dizer, somos tudo aquilo que Ele nos atribuiu vivermos e fazermos, pelo poder da sua glória e majestade eterna, ou seja, co-criar. Dessa forma, só podemos servi-Lo, na medida em que sabemos o nosso potencial, sendo, pois, o dos homens, fazer do seu intelecto a ferra­menta de construção e transformação do seu ambiente interno, quanto externo. Já, por outro lado, o dos deuses, ser as influências astrais pelas quais os homens podem — por meio do seu autoco­nhecimento e aplicação prática — empregá-las como uma autoex­pressão de si mesmos, como também, do poder criador e gerador do Altíssimo, que age através de todos nós, mediante as nossas boas e más obras.

Não obstante, aconteceu que quanto mais ia o anjo e o homem se afastando da costa, mais perceptível ficava para o humano que o oceano era um domínio do seu próprio inconsciente! Porque, es­tando o mar a se esbravejar na orla da praia, e a se retorcer nos ro­chedos, ficava notório ao banhista, que o caos era à força da natu­reza que na humanidade se manifestava por meio das suas emoções, isto é, mediante os seus sentimentos que oscilavam tanto do posi­tivo, quanto ao negativo.

Por tal razão, disse o banhista:

— Verifico que o comportamento das águas — disse ele obser­vando as ondas se debaterem —, é semelhante à conduta do homem quando fica em seu estado emocional desequilibrado! Além do mais, em desarmonia consigo mesmo, ele fica se esbravejando como as ondas oceânicas que se arrebentam no litoral com violência, e que nos rochedos se dispersam com fúria, devido ao seu vigor descomu­nal. Portanto, do mesmo jeito, ficam as pessoas quando estão nervo­sas, seja por qual motivo as levem a este estado de animosidade! Por isso, somos em natureza semelhantes, ou seja, devido ao fato de ser assim como acima, é também como abaixo; da mesma forma, como é dentro, semelhante é fora, sendo essa uma lei universal, que per­meia o cosmos e toda obra manifestada pelo Creador.

— Sim! — respondeu o anjo consentido com o seu interlocutor. — Por semelhantes vós sois! Já que, o homem e tudo aquilo que nele há, se reflete no mundo através do seu pensamento. Portanto, o que há na natureza, é o que há nele mesmo, por ser tudo uma proje­ção da sua própria mente. Desse modo, sendo os humanos uma experiência de Deus na matéria; e sendo Deus quem a tudo creou, a humanidade percebe as coisas experimentando-as antes em seu pró­prio ser, para depois percebê-las no ambiente onde as vê. Por esse motivo, as pessoas devem primeiro olhar antes de tudo para dentro de si mesmas, para que vejam depois fora, o que em seus corações sentem e na sua mente enxergam. Ademais, enxergando as coisas boas, enxergarão na vida as maravilhas creadas por Deus. Já, por outro lado, observando as coisas más, perceberão os tormentos que elas próprias cultivam dentro de si, nutrindo, dessa maneira, por meio dos pensamentos negativos, as formas distorcidas dos seus sentimentos.

No entanto, continuou o banhista a refletir sobre o que ele pro­sava com o anjo. Em sequência, após um suspiro forte, indagou-o:

— Quer dizer que o que eu vejo nesta mudança repentina do clima, está ligado ao que sinto dentro de mim? Ou seja, é uma mani­festação do meu próprio estado emocional, e, por conseguinte, mental?

— Sim! — respondeu o anjo condescendente novamente ao ho­mem. — Porquanto, sendo tu por espírito como nós que habitamos no firmamento, fomos por Deus colocados onde devemos estar. A saber, quanto ao tempo em que vós viveis encarnados, este é por si mesmo, aquilo que definimos em espírito a vós, quando fostes a nós consagrados pelo Creador de lhe determinarmos o destino. Para tanto, o homem fica aos deuses suscetíveis em suas emoções a agir, e nas suas decisões a tomar, conforme nós percorremos o cosmos. Porque, o que há no alto, é análogo ao que está embaixo aqui na Terra; e o que o homem percebe no outro, é o que ele reconhece dentro de si mesmo — de forma projetada — ainda que muitas vezes rejeite as suas sombras interiores, por desconhecer em si mesmo, o bem e o mal.

Isto posto, o mensageiro e o banhista continuaram a passear no calçadão afastados da praia. Eles passaram horas a caminhar entre a tempestade que varria a areia da orla, por meio de ventos e chuvis­cos ruidosos, onde ambos falavam sobre as banalidades do mundo, sobre os mistérios espirituais, e sobre a natureza humana.

 Até que o banhista ao emissário interpelou:

— O que os humanos possuem de diferente de vós que sois ce­lestiais, que nos impede de poder igualar-vos? Sois vós, por acaso, melhores do que nós que somos mortais?

— Vós não sois como a nós — tornou a responder-lhe o guar­dião novamente — porque Deus não nos fez iguais quando Ele a tudo creou. Oras, somos filhos do fogo! Não obstante, o homem possui similaridades com os deuses. Haja vista que todos nós somos emanados do Eterno, porque tudo surge da consciência universal (que por natureza e estado de plenitude sempre existiu como forma de luz). Portanto, foi desse modo que a humanidade foi feita con­forme a vontade do Creador, para poder na matéria habitar! Pois, a matéria Ele a fez inicialmente fria e inerte; e querendo dar-lhe vida, ao primeiro ser humano consagrou o espírito e este viveu no Jardim do Éden. Em razão disso, deve o homem a Deus procurá-lo sempre que possível além das suas atividades diárias, meditando e ouvindo ao seu silêncio interno! — orientou o anjo. — Porque, encontrando ao verbo sagrado que se fez carne, ele achará dentro de si quem poderá também a alma resgatar-lhe, mediante boas obras, ou seja, redimindo-a dos seus pecados, e, desse modo, purificando-a para que possa voltar ao céu. Ademais, esse deve ser o caminho de toda a humanidade: Transmutar a sua má inclinação em servir-se a si mesma, em prol de colaborar com o seu semelhante, pois, só assim conseguirão as pessoas equilibrarem as suas emoções, e, a partir disso, poderão de fato conseguir tornar-se conscientes de si mesmas.

Com efeito, continuou o banhista confuso com estas elucidações que o anjo se esforçava em explanar-lhe, de modo que ficou matu­tando-as por alguns instantes enquanto caminhava com ele. Segui­damente após refletir por alguns minutos, observando o tempo mu­dar e o sol voltar a brilhar, o banhista questionou:

— Como assim?

— Quando Deus ao homem fez — disse-lhe o mensageiro — Ele o fez semelhante à sua divindade, ou seja, dotado de razão! Con­soante, tendo o homem dentro de si o sopro da vida, isto é, a luz que a tudo creou, isso o torna, portanto, uma manifestação do cosmo, assim como, também, um ser do caos, por nele habitar. Po­rém acontece o seguinte: sendo o ser humano o sopro divino na matéria, isso o torna, por assim dizer, oscilante entre a luz e o caos! Logo, por causa disso, a humanidade vacila como a um pêndulo entre servir a Deus através da razão — obrando conforme a sua intuição criativa assim o determina; tanto quanto em servir ao caos — a sua vontade e aos seus desejos, se deixando levar pelos senti­mentos e emoções irracionais, ou seja, a própria loucura.

À vista disso, o homem estava admirado por saber sobre esses mistérios da sua origem, e ao emissário interpelou-o demonstrando querer se aprofundar mais nesses enigmas sagrados:

— Mas como pode muitos homens ao Creador “renunciar” em sua autossuficiência, se tudo foi Ele quem o fez por sua vontade e onipotência, onisciência e onipresença as coisas existirem?

— A humanidade sabe no seu íntimo — disse-lhe o anjo calma­mente — que Deus é quem a todas as coisas creastes! Todavia, quando as pessoas ficam independentes da fé, elas ignoram que foi Deus o creador de si mesmas, por estarem com o seus corações fechados a Sua magnificência! Dessa forma, ao se trancarem no seu próprio ego, esses indivíduos não enxergam com o olho do espírito que aos mistérios divinos conhece-os, por estarem com este obstru­ído à luz da razão.

— Oras! — exclamou o homem. — Se a humanidade é uma ex­periência de Deus na matéria — replicou o banhista — por que Ele se projeta através dela, mediante, também, a sua autossuficiência? — questionou-o. — Visto que, sendo nós a força do seu potencial, por que o Creador se imiscui de contemplar a si mesmo por meio dos seres humanos, já que, somos feitos a sua imagem e semelhança? Seria, por acaso, isso de algum modo idolatria por nossa parte?

— O Creador só reencontra a si próprio — explicou o anjo — quando cada ser humano escuta-O dentro de si! Pois, olhando para fora, as pessoas enxergam o mundo o qual elas criaram com os olhos da mente, que se projetam através do cérebro, ou seja, por meio da imaginação. Afinal, vendo só o que elas podem fazer no espaço e tempo, não entendem que estas são forças manifestadas do seu in­consciente! E ignoram que Deus só se revela em espírito quem real­mente Ele é, quando individualmente qualquer personalidade encar­nada O achas dentro de si mesma, imergido em silêncio e meditação, donde, por fim, alcançarás a iluminação.

Porquanto ficou o homem mais consciente da sua condição espi­ritual, de maneira que continuou a questionar o anjo, uma vez que, a sua necessidade por respostas, o impulsionava a querer saber mais:

— E como tu — que és um emissário — pode manifestar-se em forma humana? Posto que, sendo um ser celestial, como que tu con­segues ao reino dos homens descer e estar aqui, agora, comigo a falar?

— Eu posso tomar qualquer forma! — replicou o mensageiro. — Eu também posso como espírito caminhar nesse mundo e em tantos outros! Além do mais, sendo eu um raio estrelar — uma luz de consciência que no vazio brilha —, aos homens posso ver-lhes neste plano físico. E vendo-os, percebo-lhes como sendo formas caídas de luz na matéria; mas também, por outro lado, os vejo como consciên­cia que nela vive em forma humana.

— Sim! — disse novamente o rapaz corroborando com o guar­dião, porém, ao mesmo tempo contradizendo-o. — Mas como eu posso notá-lo materializado, e as outras pessoas não? Por que tu não te manifestas a todos os seres humanos? Já que, para ti, isso parece não ser impossível?

— Oras... — titubeou o emissário — e por que eu me revelaria aos outros seres humanos, se estes na sua maioria só creem naquilo que lhes é conveniente ver e escutar? Só posso me tornar real, para quem crer que o plano espiritual é muito maior do que vãs especula­ções teológicas, filosóficas ou mesmo científicas. Portanto, ó ho­mem, eis o mistério da fé, crer para ver! Além disso, Eu Sou visto por aqueles que dentro de si primeiro procuram a Deus ao imergi­rem no seu silêncio interno! Afinal, o homem buscando-O, encontra aos que a Ele servem de mensageiros; e também aos que a Ele ser­vem por sentinelas. Por isso, ouvindo a humanidade ao Creador, ela se fará, junto a Ele, um só corpo e um só espírito! Pois, o homem conectado com o Pai, está ligado a sua essência divina — a luz que a tudo fez, faz e perpetuá-se a sempre continuar fazendo por toda a eternidade! Dado que, tudo é eterno! E tudo o que é eterno, existe para sempre, por não ter fim.

Todavia, refletiu o homem profundamente sobre a sua condição espiritual, e como encontrar a Deus meditando, ou seja, ouvindo a si próprio em silêncio. Dessa forma, por último, ao anjo perguntou, notando, e, ao mesmo tempo se maravilhando com o conhecimento que este possuía:

— Tu sabes muitas coisas! — referiu-se o banhista a virtude do guardião. — E sabendo-as, és por causa disso o emissário de Deus. Como que o homem também pode ser um mensageiro de Deus, se encontrando-O dentro de si, não consegue ao grosso da humanidade revelá-Lo? Isto é, como posso me prestar ao serviço do Pai Eterno, se mesmo eu O encontrando ouvindo o meu coração, ainda assim, isso não me torna, por certo, um iluminado?

— Tu não revelas Deus às pessoas — respondeu o anjo ao ba­nhista — encontrando-O dentro de si! Mas, por outro lado, aos ou­tros seres humanos tu lhes mostra como deves ser feito a partir do que no seu íntimo, Ele a ti intui mediante as obras pelas quais tu as realizarás. A luz brilha, onde ela é vista! E o Creador se ouve, quando as pessoas O buscam em seus corações. Sendo, pois, a hu­manidade feita à imagem e semelhança de Deus, é, por assim dizer, toda ela feita da sua essência divina, ou seja, de luz!  Portanto, des­cobrindo cada ser humano a sua centelha divina — que é o verbo que se fez carne — descobre o mesmo ao Creador refletido a sua imagem e semelhança em tudo àquilo de bom, justo e belo que cada individuo consegue ver projetado fora de si no mundo. E isso só se torna possível, na medida em que, as pessoas descobrem o seu po­tencial, e põe-se às mãos a obrar.

Por fim, o anjo se retirando, finalizou a conversa com aquele ba­nhista. Não obstante, antes de ir embora, apontou o caminho que ele deve percorrer para superar os seus problemas, como também, os seus traumas. Porque, tudo no mundo é uma luta, uma batalha entre a fé irracional sem propósito com a razão cética sem sentido, isto é, um combate de titãs que se digladiam em uma guerra eterna que se faz no íntimo de toda a humanidade, e pela qual, é vista no cotidiano dos povos e nações mediante os embates e desafios que lhes são postos a todo o momento, como forma de se persistir em pelejar. Por isso, o equilíbrio só se tornará possível, quando as pessoas en­contrarem entre esses dois antagonistas, a suas missões em realizar a grande obra de Deus, isto é, o seu propósito como ser onisciente, onipotente e onipresente pelo qual Ele se projeta em toda a sua creação.

Em suma, falou o guardião:

— Isto posto, ó homem, deixo-te para voltar agora ao meu posto como sentinela entre as estrelas do firmamento. E tu, que doravante sabes do teu poder de realização, deves trabalhá-lo no mundo (ainda que estejas oscilando sobre fortes turbulências e atravessando tem­pestades), contudo, em tua briga, continue sempre a perseverar. Visto que, o caminho é árduo, e difícil, e só consegue atingir o seu destino — a sua finalidade , aquele que cumprir a sua missão, enfrentando todas e quaisquer mudanças de tempo, assim como, também, de sentimentos e emoções. Amém!

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