As Bijuterias

 

 

Houve um dia em que um homem vendo do portão da sua casa passar pela rua um vendedor ambulante de bijuterias com o seu carrinho carregado de ornamentos, aproximando-se do merca­dor, perguntou-lhe o tipo de material de que os adereços eram feitos:

— Estas joias que tu vendes são de ouro?

— Não senhor! — respondeu-lhe o comerciante. — São bijute­rias com uma fina camada de ouro, só para dar a tonalidade a elas de real.

Indignado com a resposta do comerciante, o homem interrogou ao vendedor de bijuterias:

— Como pode o senhor vender o que é falso, por verdadeiro? Isso é errado! — censurou-o.

— Eu não vendo o falso pelo verdadeiro! — replicou-lhe o ven­dedor. — Eu vendo bijuterias! — corrigiu-o. — E não joias reais.

Não obstante, insistente, o homem ao vendedor de bijuterias disse afirmadamente:

— Sim! — exclamou. — Todavia meu caro, tu vendes as bijute­rias como se elas fossem de ouro, algo que não o são.

— Eu não vendo bijuterias como se fosse de ouro! — redarguiu-lhe o vendedor impaciente. — Se assim fosse, eu não venderia biju­terias, e sim joias.

Conseguintemente, após observar as bijuterias expostas no carri­nho, o homem falou calmamente ao comerciante de adornos:

— Mas estas bijuterias que tu estás a vender, parecem ser joias! — disse o homem com o olhar fixo no vendedor. — E se tu as ven­des como bijuterias — ainda que elas não sejam joias —, o senhor está vendendo o que é falso, pelo verdadeiro! — afirmou. — Já que, as bijuterias assemelham-se a joias. Logo, o que tu estás a fazer, é enganando quem do senhor pensa estar comprando joias por bijute­rias baratas.

 — Senhor! — disse-lhe o comerciante demonstrando um par de anéis ao homem. — Eu sou um vendedor de adornos para mulheres, e para homens que gostam de estarem bem apessoados! O Senhor quer comprar de mim algum destes adereços? — perguntou o ven­dedor de bijuterias ao homem com ironia, oferecendo-lhe o anel brilhante.

— Eu não compro o que é falso pelo o que parece ser verda­deiro! — respondeu-lhe o homem. — Sou muito cauteloso com as coisas que aparentam ser verdadeiras, mas que são na verdade falsas. Uma vez que, o que o homem trás para si de enganoso, este guarda no seu coração a mentira.

Entretanto, o vendedor de bijuterias já cansado deste homem, lho falou:

— O senhor é muito sem educação! — objetou-lhe gesticulando com as mãos. — Nunca tentei te vender o falso pelo verdadeiro, e sempre disse que o que vendo são bijuterias, e não joias reais. Se tu pensas que está comprando o falso pelo verdadeiro, então não há quem lhe tire isso da sua cabeça! Mas não me venha dizer que sou mentiroso! — contrariou-o. — Pois, o que vendo é o que digo ser verdade, e os que compram de mim, é o que cada um acredita ser real.

Em sequência, revoltado por ter sido contrariado, o homem ao vendedor de bijuterias respondeu-lhe:

— Senhor! — disse tentando apaziguar as coisas com sinais de mímica. — O que tu fazes é errado! As bijuterias que o senhor vende, parecem com joias. E se tu vendes o que é parecido com o que é real (mesmo não sendo o real), logo, o que tu estás a praticar é um crime! — criticou-o. — De modo que estás a enganar aos que de ti compram, o que é falso por verdadeiro.

Por conseguinte, o vendedor de bijuterias aborrecido com aquela conversa, retorquiu ao homem depreciando-o:

— O senhor é insuportável! — insultou o comerciante de bijute­rias ao homem. — Se tu não queres comprar nada do que eu estou vendendo, não me amole a paciência. — deu de ombros o mercador de bijuterias se afastando para ir embora com o seu carrinho.

— Não te amolo a paciência senhor! — disse o homem em tom ameno. — Só lhe digo o que de fato tu fazes — que é vender o falso pelo verdadeiro, trocando a verdade pela mentira. 

Tão logo, por causa disso, já de “saco” cheio deste homem, o vendedor de bijuterias irou-se:

— O senhor é muito intrometido e sem educação! — disse-lhe enfezado o comerciante. — Ficas a se meter nos negócios dos ou­tros, e só atrapalha quem quer trabalhar.

— Se tu vendes o que é falso pelo verdadeiro, não está a trabalhar pela verdade! — proferiu o homem. — E sim, a propagar a mentira! — censurou-o. — Pois, sendo o senhor as artes das sombras dado a praticá-las, não podes a luz tê-la em espírito e verdade dentro do teu coração.

Todavia, o vendedor de bijuterias, cansado daquele homem falou energicamente:

— Pense como tu quiseres! — replicou-lhe se afastando com o carrinho. — Eu não sou obrigado a te dar explicações. O que faço é vender bijuterias. Se tu não queres comprá-las achando serem joias falsas por verdadeiras, então que o senhor vá se danar.

Contudo, o homem indignou-se com o vendedor de bijuterias, vendo ele se afastar:

— Não sou eu que vou me danar! — respondeu-lhe enfurecido. — És tu que estás a plantar a mentira pensando que ira colher a ver­dade! Conquanto, o que fazes não é digno de respeito. — apontou-lhe o dedo indicador acusando-o. — E se o senhor está usando a mentira para justificar a verdade, então, o senhor não pode ser bem sucedido em tua empreitada.

Já com a paciência no limite, o vendedor de bijuterias parando o carrinho no meio da rua, ao homem respondeu-lhe:

— Tu me és um espinho no calcanhar! — criticou-o — O que fiz para merecer encontrar, um homem tão chato e implicante quanto ao senhor? — perguntou-lhe de modo retórico o mercador.

— Se tu me tens por espinho no teu calcanhar — redarguiu-lhe o homem — foste tu quem o procuraste, quando as bijuterias falsas, o senhor decidiu vendê-las por joias verdadeiras! O que tu podes fazer não é me criticar, mas sim observar-se. Porque, se tu estás querendo ganhar a vida com mentiras, esta não lhe tardará a te destruir. Visto que, tudo o que é edificado em maldade, é revelado pela luz! E toda mentira que é exposta á luz, acaba por ser desfazer como um castelo de areia! De forma que, não pode o falso substituir o verdadeiro; e não pode o verdadeiro se passar pelo falso.

Consequentemente, o vendedor de bijuterias, então, argumentou com o homem após ouvir-lhe a crítica:

— Se queres pensar que eu sou um impostor, e que engano a quem vendo as bijuterias como se fossem joias reais, então penses como quiseres! — disse-lhe novamente inconformado o vendedor. — Pois, o que eu faço é algo digno, porque a ninguém ludíbrio, e sabe quem de mim compra que as bijuterias não são joias reais, mas sim cópias das que existem.

— Aí é que está o seu erro! — acusou o homem ao vendedor de bijuterias. — Tu sabes que o que faz é errado, e mesmo assim não se envergonha. Sabendo que está vendendo o falso pelo verdadeiro, e que o falso é uma cópia do real, logo, está dissimulando a verdade pela mentira! E está a plantar espinhos, onde deveria cultivar rosas. O que eu posso dizer-te, senão, que estás a agir por insensatez e desvergonha? — indagou-o.

— Quer saber? — retrucou o mercador retoricamente. — Se tu não queres comprar as minhas bijuterias, então que vá se danar! — exprobrou o vendedor de bijuterias ao homem com ódio. — Eu sou o que sou, e vendo o que eu posso para poder sobreviver. Se não te agrada a minha atividade, então procure um joalheiro profissional, que este te vai vender joias verdadeiras, como tanto desejas vê-las.

— Como tu és tolo! — repreendeu-o o homem gesticulando com as mãos. — Por não dar o devido valor às coisas reais, e se deixar persuadir pelas falsas. Sendo tu quem a mentira busca, ela vai te trair! Portanto, pois, fiques, a saber, que a mentira não se sustenta por muito tempo, por sua base ser de areia, e não firme como a de pedra. Se tu fosses sensato — coisa que não parece ser —, já teria deixado de vender o falso pelo verdadeiro; e procuraria a verdade (não no que parece real, mas no que é real). Pois que, a verdade só pode ser revelada ao homem, se este buscá-la em virtude, agindo honesta­mente, e não na mentira, que é maligna e traiçoeira desde sempre.

Porquanto, estarrecido, o vendedor de bijuterias do homem se despediu dizendo-lhe:

— Pense o que tu quiseres de mim! — menosprezou-o dando com as mãos no ombro. — Continuarei a vender as minhas bijute­rias — asseverou — e quem comprá-las, saberá que está comprando (não joias reais), mas imitações. Agora se querem comprar o falso pelo verdadeiro, paciência! — aludiu. — Não estou a ninguém que­rendo enganar! — justificou-se. — São as pessoas que a si mesmo se enganam, se agarrando as ilusões, e não a realidade.

— Sim! — insinuou o homem ao vendedor de bijuterias gritando, ao vê-lo se afastar. — As pessoas não buscam ao real, porque se acomodaram a se enganarem com o falso! Desse modo, sendo o falso de muito mais fácil lida, é a verdade para elas, um caminho difícil e oneroso de se trilhar. No entanto, se buscassem em espírito conseguir o que elas desejam, elas poderiam ter quase tudo o que desejassem! Porque, os desejos existem — não para aos homens torná-los mais materialistas e presunçosos. Contudo, para instigá-los a buscarem aos mistérios do espírito dentro de si mesmos, medi­tando e ouvido o seus corações.

E foi-se embora o mercador de bijuterias. Logo, o outro homem se retirou para a sua residência. Não obstante, observava-lhes deba­ter um anjo vestido de preto que estava próximo a uma árvore na calçada da rua, de maneira que consigo comentou posteriormente dar algumas baforadas ao tragar a fumaça do cigarro:

— O homem é inimigo do homem!

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Sinopse

    A Sapiência do Querubim é um livro que convida os leitores a imergirem neste fascinante mundo da transcendentalidade da alma humana, que...