Com efeito, ele falou:
— Ajuda-me, ó Deus, a conseguir algum cliente para se hospedar no meu hotel. Pois há meses que ninguém vem aqui se abrigar.
Por conseguinte, após o seu clamor, apareceu repentinamente na recepção do hotel um forte clarão, que falou:
— Ó homem de pouca fé! Por que me testas?
— Quem és tu? — perscrutou o hoteleiro surpreendido por aquele relâmpago.
— Eu Sou Aquele a quem tu se dirigiste ao pedir-me que lhe enviasse um hospede ao seu estabelecimento.
Por sua vez, assustado, o homem exprimiu:
— Ó poderoso e inefável Deus! — replicou o hoteleiro demonstrando assombro diante do clarão. — Eu não quis desmerecer a sua onipresença, onisciência e onipotência, razão pela qual em meu coração eu não acreditava o Senhor existir. Portanto, foi por eu estar sem ter um hóspede, há tanto tempo, no meu estabelecimento, que eu a ti clamei por uma solução, ou seja, que me abrisse os caminhos e me trouxesse novos clientes.
— Pois atendido tu fostes! — disse-lhe o forte clarão que semelhante a uma coroa de ouro, radiava feixes de luz. — Por que, então, se negavas a crer na existência de Deus? Precisou o teu hotel estar vazio para que tu a Ele clamasses por um hospedeiro?
Em razão disso, surpreendido por aquele evento sobrenatural, o hoteleiro percebeu que ele foi ao longo de muitos anos da sua vida rude consigo próprio, ao duvidar da sua vocação religiosa, isto é, crer que Deus existia. Dessa forma o homem voltou para si mesmo em silêncio, e falou em pensamento:
— Por que eu fui durante tanto tempo descrente em relação a ter fé em algo maior? Como eu pude acreditar que só poderia obter as coisas, mediante o meu esforço e trabalho? Que tolo eu fui ao negar no meu coração, o Senhor não existir, e tudo ser obra do acaso!
Diante disso, o clarão, sabendo o que esse homem se questionava em seu pensamento, respondeu:
— Tu duvidavas da tua predisposição em ter fé, porque tu te negavas a crer ser o teu coração o templo do Deus vivo e verdadeiro! Portanto, a partir de agora, tu deves confiar-Me poder através de ti, fazer, com que Eu possa tornar-te um homem digno de viver em harmonia consigo mesmo e com os demais membros da sua comunidade, ao se permitir por meio da tua intuição eu te instruí a realizar o seu trabalho, ou seja, hospedar não só novos clientes, como também, instruí-los na realização das suas obras, isto é, torná-los receptivos assim como tu, a intuição que por meio deles também obrará.
Posteriormente a este diálogo com o hoteleiro, o clarão, assim como surgiu, repentinamente desapareceu, e esse homem, logo após veio a falecer de enfarto, devido ao abalo emocional que ele teve ao presenciar tamanha presença espiritual. Conquanto, ao chegar ao reino dos mortos, isto é, o Hades, aproximou-se dele um anjo em forma humana — aparentando ser um ceifador —, que dirigiu-lhe a seguinte pergunta, demonstrando insatisfação e mesmo repulsa com aquele hóspede recém chegado:
— Por que tu — espírito insolente — enquanto esteve encarnado não creste que era filho de Deus?
— Agora eu sei que sou uma estrela em meio a tantas outras que existem na eternidade. — respondeu o desencarnado. — Todavia, antes eu só enxergava o corpo e o mundo no qual eu habitava, por isso de eu não crer que Deus existia.
— Sim! — corroborou o anjo que possuía uma forma um tanto amedontradora. — Tu, filho do homem, és uma estrela que caíste do céu, já que, deixaste o firmamento para habitares na Terra, ao comer do fruto do conhecimento do bem e do mal, motivo que o fez abrir os olhos, para perceberes a sua real condição humana em detrimento da espiritual. Doravante, tu sabes (estando aqui na eternidade), que a luz da sabedoria do Eterno é o anjo pelo qual a ti me revelei, e que tu em tua incredulidade pediu a Deus para que te abrisse os caminhos, ou seja, te arrumasse um hóspede com o qual poderias compartilhar da sua hotelaria.
— Ó Senhor! — exclamou o desencarnado choramingando. — O que será de mim agora? — retorquiu a alma do antigo hoteleiro acabrunhada. — Tenho medo do que irá acontecer comigo, por eu ter em meu coração duvidado de Crer na existência de Deus e dos seus mensageiros. Como posso remediar o mal que cometi, perante a divindade a qual subestimei?
— Oras! — disse o anjo com certo desdém. — De ti será aquilo que ainda não entendeste na sua ignorância a sua real natureza. Isto é, viverás novamente com a humanidade e terás, então, mais uma chance de perceberes o tamanho que é a grandeza do reino de Deus e das suas muitas moradas. Portanto, quando aprenderes a voltar para dentro de si em meditação e silêncio, e ouvir ao verbo divino que em teu corpo habita, compreenderás que a mente do homem é por onde ele consegue acessar a sabedoria eterna do Creador. Por fim, poderás — assim que tu te iluminares — voltar ao firmamento como uma estrela cintilante, ao invés de estares aqui, perdido, no reino dos mortos, em meio à desolação sepulcral do vazio como um “símio” alienado.
Daí em diante, após estar defronte da presença do anjo da morte, essa alma que durante tanto tempo foi vazia enquanto esteve encarnada, teve de aprender a reconhecer — quando voltou a encarnar —como sendo uma faísca de consciência do Creador. Quer dizer, enquanto vive a humanidade ao longo da sua vida crendo ser a imagem do corpo em que ela habita (quando esta é espírito e, por conseguinte, instrumento das obras do Grande Arcano), a consciência vai se atrofiando a figura do corpo, não conseguindo expandir-se para os planos superiores da creação, ou seja, o estado de SAMADHI ou plenitude absoluta, por faltar-lhe a fé em si mesma e na divindade espiritual que há faz existir.
Por fim, o desencarnado comentou — antes de acordar novamente no mundo dos vivos —, isto é, reencarnar, a respeito da sua atual condição e como ele deveria proceder para evitar novamente ter que cair no abismo vácuo da sua alma, e, por consequência, ter que continuar reencarnando neste infinito ciclo de morte e renascimento que a consciência tem que ficar passando:
— Agora, pois, que desencarnei,
reconheço-me como sendo um fóton de luz que precisa de um corpo para poder
manifestar todo o potencial infinito do Creador. Haja vista a encarnação da
vida na Terra, ser o espaço de realização de cada ser humano, quando este aprende
a primeiro ouvir em seu íntimo, a intuição que o guiará na consecução da sua
grande obra, ou seja, revelar ao mundo o seu potencial divino de co-criação, e,
a partir daí, ser um instrumento de realização da divina providência na Terra.
Amém!
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