O Médium

 

 

Havia em uma determinada grande metrópole, localizada pró­ximo a um estuário, onde muitas pessoas viviam a suas vidas em função do trabalho e do dinheiro, um homem que possuía um dom diferente, porém especial. No entanto, esse dom era para ele muito difícil de aplicá-lo socialmente, pois, sendo médium, as pes­soas não o compreendiam, e, por vezes, até mesmo o achincalhavam. Por causa disso, por os habitantes da cidade não o compreenderem, ele, muitas vezes, se sentia isolado em seu ser, por não poder dizê-las o que ele tinha a lhes falar.

À vista disso, durante uma noite de sono, esse médium teve uma experiência sobrenatural, de forma que estando em seu quarto dor­mindo, eis que teve um sonho lúcido. E neste sonho, um anjo em forma de luz, o falou:

— Tu, ó homem, realmente é muito dado a esquisitices! Uma vez que, por seres médium (e tendo por dom a mediunidade), não a trabalha. E não a trabalhando, tu te tornas refém deste dom, que, por sua vez, atormenta-lhe a alma, a tal ponto de, também, conseguir perturbar-te a mente, de modo que se tu te empenhaste em trabalhá-lo, a muitas pessoas poderias ajudá-las a se encontrarem, por estarem — em muitas situações —, perdidas e sem orientação.

— Eu sei que sou médium! — disse o homem em um tom bas­tante ameaçador ao anjo, demonstrando certa irritação, como tam­bém, insegurança. — Porém, as pessoas fogem de mim, por não compreenderem que sou um canalizador espiritual. Além disso, elas me veem como a um estranho, ou seja, me ignoram, se bem que, por outro lado, de igual modo me temem! De certo, por eu estar ao mundo etéreo conectado através da minha intuição, este dom faz parte do meu destino; e elas que ao mundo transcendente não creem existir, pensam eu ser um louco, por dele eu lhes falar.

Por conseguinte, o anjo tentando amenizar a dor psicológica do médium, exprimiu-se:

— Não temas aos que de ti duvidam! — consolou-o. — Quando tu falas o que ouves em espírito e transmite-os em verdade. Diga-lhes o que tu tens por missão e obrigação a lhes dizer! — disse afir­mativo. — Ademais, ó homem, tu estás pela luz sendo orientado, por cuja causa, dessa maneira deves continuar a ouvi-la! E, aos que de ti faz pouco causo, ignora-os! — aconselhou-o. — Porque, a entre esses — ainda que não creias —, aos que contigo querem muito aprender.

— Eu percebo ser tu muito sábio! — exprimiu o médium no­tando no anjo o discernimento com o qual se expressava. — E sendo hábil em palavras, me dizes o que as pessoas eu tenho dificul­dades em lhes falar, de forma a persuadi-las, que o que eu vejo e lhes ensino, não são coisas ou delírios da minha cabeça, mas, por assim dizer, instruções que me são passadas por quem me confiou a esta tarefa fazê-la. Com efeito, pois, há entre a humanidade, por sinal, aqueles que ao Divino Espírito Santo o encontraram, quando imer­giram adentrando no mais profundo silêncio das suas almas, bus­cando ouvirem os seus corações. Portanto, é desse modo — como bem dissestes —, que agora estes iniciados tem por missão as pes­soas revelar-lhes o mesmo caminho, que levá-las-ão a conhecerem e, por conta disso, beberem, do saber virtuoso da luz, de sorte a pode­rem para ela em espírito e verdade retornarem, ascendendo ao céu.

Diante disso, o anjo, então, já percebendo no médium entendi­mento e compreensão sobre os mistérios espirituais, expressou-se:

— Tu tens mesmo ó homem muito a ensinar aos teus semelhantes! — afirmou novamente. — E instruindo-os, muitos a ti não o ouvi­rão. Mas, por outro lado, sempre procure falar para os que te escu­tam — orientou-o — pois, esses ao mistério interior do coração, já estão no percurso de encontrá-lo. E tu, com a tua mediunidade, poderás em muito ajudá-los a chegarem aos seus destinos, que é ascenderem em espírito e sabedoria a Deus.

— Tu tens que compreender — justificou-se cabisbaixo o médium angustiado —, que para mim é difícil comunicar-lhes as epifanias que eu recebo. Sendo as pessoas de difícil acesso, eu lhes tenho há muito tempo tentado lhes falar. E falando, não me ouvem! E as que têm interesse nas revelações que lhes digo, sobre os mistérios do mundo espiritual, essas ainda não me dão crédito, por não os verem pelo motivo de faltar-lhes fé.

— Sim! — retrucou o anjo buscando motivá-lo, diante da melancolia com a qual o médium se expressava. — Infelizmente, afinal, existem essas pessoas que não creem no mundo transcendental, por não o verem como tolamente elas gostariam que ele fosse — uma fantasia. Portanto, tu deve-lhes falar-lhes (não com as palavras que de ti pro­feres), mas com o coração que as farão ouvir-te. De fato, sendo tu ao mundo etéreo ligado — por meio da tua mediunidade — és, por causa disto, dotado a compreendê-lo! E sendo propenso a compre­ender os mistérios espirituais, também aos do corpo e da mente tu os conhece! Dado que, por já saberes que as pessoas ao Divino Es­pírito Santo reprimem-no — por o terem como um delírio da maio­ria dos falsos religiosos, devido as suas mentiras e vigarices —, em razão disso, já foste blindado pela espiritualidade a deles se defender, como também, esclarecendo-lhes a suas dúvidas que os afligem a alma, e, por vezes, em muitos casos, apesar de tudo isso, animando-os em sua fé.

Todavia, o médium constatando que o anjo tinha uma vontade forte de convencê-lo a continuar fazendo o seu trabalho (para aos humanos abrir-lhes os ouvidos de ouvir e os olhos de ver), disse-lhe:

— Tenho, pois, que tornar a dizer-te: Ainda que eu seja seme­lhante à turba de gentes, sou pelas massas visto como a um estranho, devido a minha mediunidade! Elas me ignoram! — entristeceu-se. — E não me querem ouvir. — lamentou-se. — Porque, eu tenho por dom ao mundo espiritual contatá-lo (ouvindo-o, sentindo-o, e mesmo, em alguns casos, vendo-o). No entanto, o povo pensa eu ser uma pessoa dotada de algum problema mental, pois, eu sou uma exceção aos padrões convencionais que eles estão acostumados a verem, no decorrer do dia a dia na Terra.

Por esse motivo, o anjo, então, retorquiu ao médium com grande entusiasmo:

— Não temas ao julgamento das massas! — orientou-o sorrindo. — Porque este é falho. — Por outro lado, ao vosso Deus que te fala do coração, esse é quem tu deves ouvi-Lo! Portanto, é desse modo, que a sua luz interior que em ti fala em silêncio, lhe ensinará o caminho para o coração das turbas chegares, e, por sua vez, adentra­res.

Em razão disso, o médium, alegrando-se com a motivação do anjo, ainda assim perguntou-lhe:

— Tá! — exclamou. — Mas como eu posso ao coração duro das pessoas chegar (para poder penetrá-lo, com a sabedoria que do céu me é confiada), de maneira a com elas poder compartilhar o que me é inspirado?

— Tu tens que aprender — explicou-lhe ainda sorridente o anjo —, que tu não as convencerás somente com palavras! Visto que, estas as fazem acreditar que poderão ser enganadas, pelo motivo delas já terem sido ludibriadas antes, pelas traiçoeiras promessas proferidas — muitas vezes pelos falsos religiosos —, que prometem-lhes o céu, quando, na verdade, oferecem-lhes o inferno. Além do que, sendo as palavras ao entendimento dos povos de difícil com­preensão (devido eles serem avessos a sabedoria do Eterno), tu de­ves comunicar-lhes, mediante ações pedagógicas, que os farão abri­rem os ouvidos para que ouçam, e os olhos para que vejam.

— E como eu lhes falarei por meio de ações instrutivas — ex­primiu-se o médium confuso ao anjo — se as pessoas de mim fogem até da presença delas, por pensarem eu ser um enviado do Diabo, ou mesmo, um charlatão?

— Descubra o que lhes desperta a atenção! — respondeu o anjo. — Em suma, sendo elas curiosas por natureza, a curiosidade abrir-se-ão. E procurando entender o que não entendem; e vê o que não veem; e ouvirem o que não ouvem; e sentir o que não sentem; nas respostas que tu as deres, essas compreenderão o que tu queres lhes ensinar, e elas ainda que não acreditem, irão querer saber. Afinal, cada indivíduo buscará em si mesmo, a compreensão do que não consegue (através das formas manifestas do mundo sensível) enten­der, por antes não tê-las procurado primeiro ouvi-las de Deus.

Com efeito, ficou o médium mais animado com as explanações do anjo, e, por sua parte, se motivou. E motivado, procurou se ins­truir no que o anjo lho ensinou. Estando sóbrio em virtude e forta­lecido no amor, esse começou por estudar mais a fundo a psicologia humana, onde aprendeu sobre o comportamento e as motivações que induzem as pessoas a agirem e reagirem diante das dificuldades, e também, por que não, a falta de fé. E aprendendo mais sobre esses mistérios, elaborou uma maneira pedagógica de comunicar às mas­sas, o que esses em seus corações endurecidos se recusavam a aprender.

Desse modo, o médium, conseguiu planejar uma maneira de po­der falar a todos os que estavam dispostos a ouvi-lo. Isto é, conhe­cendo nos seres humanos — a fenda que eles possuíam aberta, de­vido a sua curiosidade natural por respostas — por esta brecha pe­netrou, tornando, por sua vez, o seu trabalho interessante, e, ao mesmo tempo instrutivo. Ou seja, encontrando no coração fechado das pessoas, o orifício para poder semear a sabedoria do pão da vida — nesses corações ela cresceu, floresceu, prosperou e multiplicou-se gerando mais conhecimento e alegria.

Por fim, o médium acordou do profundo sono em que estava so­nhando, e agradecido pelas instruções que obteve durante o repouso, ao anjo falou:

— Obrigado meu guardião! — disse se sentando à beira da sua cama. — Por ter compartilhado comigo, a revelação da sabedoria de Deus. Porquanto, agora, sou conhecedor do coração das massas. E posso ensinar-lhes os mistérios dos quais fui dotado de ouvi-los e enxergá-los, mediante a fé, que desenvolvi ao primeiro aprender a escutar, ao meu silêncio interno. Como também, a enxergar — atra­vés da minha intuição —, as respostas que me foram inspiradas por Deus. Amém!

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Sinopse

    A Sapiência do Querubim é um livro que convida os leitores a imergirem neste fascinante mundo da transcendentalidade da alma humana, que...