O Homem

 

 

Ressentia-se um homem por não ter conseguido encontrar nas suas paixões mundanas, o que ele pensava ser: o propósito da sua alma. De fato, ainda que ele se esforçasse no intento de achar o sentido da sua existência nas coisas terrenas, ele era acometido de um sentimento perverso, um vazio interior que o tornava amargu­rado consigo e com os próximos do seu convívio.

Desse modo, por conseguinte, em um dia de chuva e pouco mo­vimento, sozinho no seu quarto, ele orou a Deus por respostas, de modo que veio até ele um anjo, que o surpreendeu com uma voz que de dentro dele falava — mas que ele a ouvia como se estivesse sendo expressa ao seu lado.

À guisa de esclarecimento, este anjo lhe falou:

— Ó homem! — exclamou. — Tu és teimoso na tua busca in­sana. Porque procuras onde não devias explorar; e não sabendo mais a quem recorrer — por não ter apelado primeiro a Deus —, tu perde-se em caminhos tempestuosos e infortúnios diversos, por tentar descobrir o seu destino no materialismo bruto da ignorância, ao invés da solicitude divina do Creador.

Todavia, surpreendido com aquela voz que sussurrava de dentro do seu templo sagrado, o homem contradisse ao anjo que para ele se revelou, como sendo um reflexo da sua consciência Crística; a sua Luz Interior:

— Ó senhor! — exclamou. — Por que afirmas eu ser: “teimoso” e “insano” na minha busca existencial no profano? Já que, não apelei primeiro ao Altíssimo por ter-me deixado levar pelos meus desejos e paixões egoístas? — questionou-o. — Por certo, é daí que me su­cede infortúnios diversos e caminhos tempestuosos. No entanto, sabendo o senhor (que estou submetido às adversidades terrenas), então, por que o senhor não me desviou delas? Haja vista, ser o se­nhor o sabedor da verdade por ser a extensão da vontade do Deus Vivo; o seu archote de luz? Por consequência, por que o senhor sendo um emissário do Eterno, permites ser este homem infeliz, tão castigado em vida? — indagou-o.

Entrementes, o anjo ouvindo-o com um ar de desprezo — e ao mesmo tempo notando a falta de bom senso deste homem — para ele pronunciou-se:

— Ó homem! Tu não entendeste o que eu te disse? — redarguiu-lhe. — Tu buscas querer as coisas do mundo e por isso, não me encontras! E não me descobrindo, é “turrão” em tentar alcançar o seu propósito existencial na Terra no materialismo bruto da ignorân­cia. E um tolo por achar que Deus te livrará dos infortúnios e dos caminhos tempestuosos, que tu mesmo se dispuseste a percorrê-los. Uma vez que, foste tu quem os procuraste, e não Deus quem te creou, e pode mostrar-te as boas veredas, onde poderias colher do mais puro mel e do mais belo fruto que a vida pode te dar.

Diante disso, desapontado pelos dizeres do anjo, o homem retor­quiu-o com pesar:

— Mas senhor! — exclamou. — Por que o senhor não me mos­trou estas boas veredas, antes que, eu caísse em variados infortúnios por andar nas vias tempestuosas das minhas paixões egoístas e insa­nas?

— És tu que em primeiro lugar deve recorrer a mim, meditando e ouvindo-me no silêncio interno do seu templo sagrado — assim como estás a fazer agora aí na tua casa. — respondeu-lhe o anjo. — Ou seja, não esperar que eu te aponte as boas veredas da prosperi­dade e da fartura agindo como um louco desequilibrado, que não consegue nem a si próprio se disciplinar! Dessa forma, na sua busca insana sem saber por onde começar (dado a sua ânsia em querer achar a sua essência espiritual nos vícios do seu egoísmo), tu caístes nos dramas do mundo, sujeitando-se a ser enganado por eles, por ouvir a muitos, mas não a mim que lhe sou íntimo. Portanto, sendo eu a expressão e a extensão da vontade do seu verdadeiro Deus, sempre te esperei em alegria, de modo que eu pudesse lhe mostrar a estrada das searas, da abundância e da fartura. Logo, por tudo isso, sendo tu filho do Deus vivo e Eterno que já habitou junto às estrelas do firmamento, estive sempre presente quando precisastes; mas tu me negaste! Porquanto, achavas que no mundo encontrarias o que havia de lhe sustentar o espírito, e lhe reconfortar a carne.

Em razão disso, pensativo sobre a refutação do anjo, o homem articulou-se do seguinte modo:

— Mas senhor... — titubeou.  — O senhor me acusa por eu tê-lo negado, e por não tê-lo primeiro buscado dentro de mim. E que o senhor, sempre esteve presente durante todos os infortúnios que passei, e pelos perrengues que enfrentei. Então, por que o senhor deles não me livraste? Com efeito, pois, eu sou filho do Deus Vivo e verdadeiro; e o senhor é a expressão e extensão da vontade do Crea­dor Eterno! Por que o senhor deixou a este filho amado de Deus em caminhos tão escabrosos trilhá-los, se poderia livrar-me das dores e sofrimentos que eles me causaram, desde que, parti do firmamento para o gozo dos meus desejos e saciei-me de prazeres em minhas paixões?

— Ó homem! Filho tu és da luz, e do vosso Deus Eterno! — disse-lhe o anjo. — Eu Sou quem a ti vivifico o corpo e lhe dou o discernimento para escolher, qual dos melhores trajetos tu virás a andá-los. Contudo, é a sua Luz Interior que tu tens que primeira­mente recorrer, de maneira que eu possa estar presente na sua jor­nada — ao seu lado —, não só em espírito, como também, em sabe­doria e verdade!

Por esse motivo, deduzindo estar cometendo uma injustiça e sa­crilégio contra a sua Luz Interior, contra Deus, e a si mesmo estar se iludindo tentando justificar as suas escolhas erradas, exprimiu o ho­mem ao anjo:

— Ó senhor! — exclamou doloroso de culpa. — Perdoa-me por eu estar tão ausente da sua presença. Gostaria de redimir-me, e atri­buir-te as minhas sinceras desculpas — por ter pecado em corpo realizando os desejos das minhas paixões, sem ao menos me dar conta das consequências que estas me trariam. Bem como, em espí­rito por tê-lo rejeitado! Porque, agora sei que errei por não tê-lo bus­cado no meu intimo; e por ao senhor negar-te na minha autossufici­ência. Ao senhor peço-te que sempre estejas junto a mim, de forma que eu possa ser digno de o senhor orientar-me, e fazer-me ser, o instrumento da Sua obra divina, que só o Deus da Glória pode reali­zar através da Luz Interior que o homem dentro de si a encontrou.

Desse modo, percebendo o anjo que o homem estava tomando consciência da causa que o levou a viver infeliz ao longo do tempo, nos maus trajetos que ele próprio se dispôs em trilhá-los, disse-lhe:

— Ó homem! — declamou o anjo com autoridade. — Tu tens tomado agora consciência da sua natureza etérea, e que negou-me em espírito e sã consciência. E por isso, estás onde estás, a tropeçar nos rumos tempestuosos em que andastes, e a colher infortúnios diversos nos desejos mundanos em que procuraste saciar-se. Tu, por ser o meu discípulo, sempre observei-te ao longo da tua jornada na Terra, de modo que eu tendo fé que tu um dia voltarias a me procu­rar, sempre te esperei com o coração alegre e contente! Agora que tu estás cônscio de ser filho do Deus Eterno, dar-te-ei de colher pros­peridade e bem-aventurança! Porventura, permanecendo tu com o teu Creador, este nunca lhe faltará; e tu sempre estarás prospero em teus empreendimentos, e rico em verdade! Conquanto, tu a de volta­res um dia a Deus que te espera para cear com as miríades dos anjos celestes, o vosso reencontro no céu.

Logo, tomado de grande êxtase, disse o homem ao anjo que o ouvia:

— Ó senhor! — proferiu em oração imerso em sua meditação. — Eu tenho trilhado a vertente das sombras, pela razão que, a mim sempre sucedeu procurar no mundo, o que dentro de mim eu não encontrava (por não crer na minha alma nada existir), além de mim mesmo. Porém, o Senhor em sua infinita misericórdia enviou-me a ti — o seu emissário —, que revelou-me ser o Senhor que fazes os milagres da vida; e é o Senhor que em boas veredas orienta o ho­mem através do seu guardião, pois que, tudo do Senhor parte e tudo para o Senhor voltarás.

Porquanto, em grande júbilo, o anjo tomando a palavra excla­mou:

— Ó discípulo! Tu estás a se tornar sábio! Acordastes do sono em que estavas, e reconhecendo ser Deus que é quem em ti faz a Sua morada, despertaste desta tua longa dor que vem lhe sobrevindo aos anos, e te tirando a paz interior. Estou em grande alegria de poder ver-te alegre e feliz, por estar atribuindo ao Pai Eterno a sua bem-aventurança, em existir neste mundo terreno, ainda que profano. Destarte, Eu Sou quem também junto a ti habito neste templo sa­grado pelo qual te revesti o espírito, razão pela qual por meio dele, tu poderás pela orientação da minha sabedoria, construir as bases pelas quais eu irei poder edificar as obras do Creador.

Posto isto, compreendendo o homem ser um só com o Deus Eterno e misericordioso, e um só em espírito com a sua chama di­vina interior, a Deus rezou:

— Ó Pai! — disse orando demonstrando arrependimento. — Por muito tempo eu estive só, de maneira que eu estava a buscar no mundo (as coisas terrenas), pois eu queria sentir-me preenchido pelos prazeres que a carne me oferecia; e pelas benesses materiais que o mundo poderia me dá-las. Entretanto, agora, diante do Se­nhor, reconheço que errei, e que ao Senhor neguei! De fato, o Se­nhor sempre esteve comigo; mas, do Senhor eu me afastei. Presen­temente estou cônscio de estar diante do Senhor, e peço-Lhe mais uma vez que me perdoe! Ao passo que, eu estando longe do Senhor, cometi muitas injustiças contra a minha Luz Interior que me orienta a dar os passos, na firmeza da Sua Santa e Divina Graça. Afinal de contas, ao Senhor me neguei a olhar-Te a face, que resplandece em sabedoria e amor.

Por consequência, o anjo com grande satisfação em ouvir como aquele seu antigo discípulo rebelde estava se transformando em um ser iluminado, falou:

— Ó homem! — exclamou. — Alegro-me de ver-te tão consci­ente da verdade. Tu encontraste a luz — onde estavas mergulhado em sombras! Hoje, diante de ti, vejo-me refletido na sua consciência, de sorte que só posso ser uno com o homem, quando esse me en­contra em espírito! Eu tenho estado a te procurar — mas tu de mim se esquivavas; eu tenho estado a te buscar — mas tu a mim fugias! Agora que nos reencontramos, nós estamos a ser: um só corpo e um só espírito! Porventura, tu despertaste do teu sono profundo, e a mim chegaste, quando pediu em oração a Deus que lho atendesse. Percebo o quanto tu melhoraste e o quanto tu estás agora resplande­cido de luz e de sabedoria, por ter achado dentro de si, a sua chama sagrada: o archote que brilha nas sombras e que nunca se apaga.

À vista disso, alegrando-se com a declaração do anjo, disse o ho­mem mais uma vez em oração ao seu benfeitor Onisciente, Onipo­tente e Onipresente — o Eterno Deus:

— Ó Senhor! Sei que fui digno do que me ocorreu, pela razão que, eu o tinha negado encontrar-Te na minha essência divina, que é a luz. Mas mesmo o Senhor por intermédio do seu guardião me pro­curando, eu não Lhe fazia contas a prestar-Te. Agora que eu O reen­contrei, estou em êxtase por saber que me vês refletido junto ao Senhor na tua Santa presença! Da mesma sorte, me alegro muito de poder ser um só com o Senhor; e o Senhor um só comigo. Dora­vante, estamos juntos nesta jornada, neste trilho que estou de volta para a casa, com escopo de que, hoje eu percebo que o Senhor é quem ao homem acode e levanta-o, quando esse caído e ferido ao Senhor roga-Lhe que ilumine a face com o seu amor!

Perante o exposto, em um tom de entusiasmo e grande conten­tamento, o anjo aclamou:

— Ó criatura! Tu reconheceste quem Eu Sou. E deixastes de ser criatura, para tornar-se Filho de Deus! Porque em ti agora me vejo — não só mais refletido — assim como, vejo-me em espírito como Eu Sou. Tu reconheceste que é do Espírito Santo que provém à mudança, e que o corpo, só lhe é útil, quando tu se permites Deus fazer dele a sua morada! Visto que, sendo a vontade do Deus — a vontade do homem —, é o Eterno um só com o filho; e o filho, um só com o Eterno. Hoje estou alegre e em demasiada felicidade, por­que observo que o homem está a descobrir-me — não no mundo profano das formas distorcidas da mente —, mas no seu interior onde sempre habitei! Seja tu filho de Deus; e seja Deus quem em ti sempre viva! De tal maneira que, quando o Espírito Santo coabita com o homem, sempre estará o homem repleto de virtude, amor e bem-aventurança!

Em seguimento, após ter entrado em contato com o seu Eu Di­vino, despertou aquele homem para a sua autoconsciência, de tal modo que abrindo os olhos e olhando para o céu azul que despon­tava na janela do seu quarto, consigo mesmo comentou:

— Agora estou edificado na luz do Pai Eterno — o Divino Espí­rito Santo! — Por conta disso, consegui encontrar as respostas para as quais eu as procurando no mundo, não as encontrava, por esta­rem todas elas dentro de mim mesmo. Sou grato a Deus por ter ouvido-me a súplica, e me enviado esse ser divino com o qual pude aprender sobre os mistérios do céu e sobre a vontade do Eterno, que é revelar-se mediante o homem que O busca dentro do seu coração. Porque, agora pude entender que as respostas todas estão dentro do seu templo sagrado, onde só o divino pode habitar. Logo, é dessa forma que o profano se torna santo, mediante o contato e a trans­formação com o Espírito Crístico de Deus, o verbo que se faz carne no homem que despertou a consciência na luz resplandecente da Sua glória. Amém!

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Sinopse

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