Habitava em uma casinha branca ao pé da serra, um lavrador que vivia com o seu cachorro de estimação, suas galinhas e seus porcos, e que cultivava e colhia o que semeava em sua horta e em sua roça. Por sinal, aconteceu de um dia estando o agricultor a colher o milho que havia plantado na sua lavoura, percebeu estar sendo vigiado ao longe por um desconhecido, uma figura de homem que se projetava como uma sombra debaixo de uma grande árvore, próximo a cerca da propriedade, dado que, esse senhor, curioso, foi ao encontro dele para descobrir quem era aquele que o observava.
Por conseguinte, chegando próximo deste ser misterioso, o lavrador perguntou-lhe:
— Quem se apresenta? — disse o agricultor tirando o seu chapéu, pressionando-o no peito.
— Quem através de ti faz ver as obras de tuas mãos! — respondeu o homem que fumava um cigarro e trajava um terno escuro, parecendo ser um empresário.
Todavia, o agricultor meio que sem “graça” não compreendeu o que o desconhecido quis lhe dizer, e perguntou-lhe mais:
— Mas quem é o senhor? Não o conheço destas bandas... — disse-lhe o lavrador. — O que tu desejas para que eu possa ajudá-lo?
— O que desejo — respondeu-lhe o homem misterioso — é ver-te trabalhando e colhendo! Com efeito, pois, isto me agrada aos olhos, e também é agradável a Deus.
Conquanto, por sua vez, o lavrador, continuou a estranhar a forma como aquela pessoa lhe respondia, e mais continuou a perguntá-la:
— Mas por que o senhor está a me responder desse jeito? O que te agrada em ver-me lavorar a terra?
— Eu te respondo — replicou-lhe o desconhecido — o que o senhor me pergunta! Agrada-me te ver lavorar a terra, porque isso me é benquisto de ver-te fazer.
Já achando estranha aquela conversa, o lavrador, então, questionou ao desconhecido de maneira mais enfática:
— No que eu posso ajudar-te senhor? O que desejas de mim, para que eu possa lhe ser útil?
— No que pode o senhor ajudar-me? — replicou-lhe o estrangeiro de modo retórico. — É continuar me deleitando os olhos com o seu trabalho! Para que eu tenha a congratulação de poder ver um homem feliz e satisfeito, colhendo o que plantou, e trabalhando no que é capaz de fazer.
No entanto, o lavrador, achou aquele desconhecido mais estranho ainda. E interrogou-o se esforçando em tentar conhecê-lo melhor:
— Mas senhor! — exclamou. — No que eu posso prestar-lhe os meus serviços? — disse acanhado o sitiante.
— O serviço que tu podes me prestar — respondeu-lhe o estrangeiro — é continuar com o teu trabalho! Pois, vejo-te alegre e satisfeito em fazê-lo, e assim, também fico de poder contemplar um homem feliz em realizar, as obras que lhe foi dotado de praticá-las.
Ao passo que, o lavrador, então, achando aquilo tudo muito exótico, resolveu perguntar ao desconhecido qual era o seu nome, e com o que ele trabalhava, e como foi que ele conseguiu chegar até o sítio dele:
— E tu? — perguntou-lhe o lavrador. — Qual a tua graça senhor? — calou-se o homem. — Com o que trabalhas? — manteve-se em silêncio. — Como o senhor conseguiu chegar até aqui, no meu sítio? — observava o homem ao agricultor de modo misterioso, dando baforada que as tragava do cigarro. — Qual o motivo o trouxe a este lugar tão longínquo?
Respondeu-lhe o viajante:
— Eu Sou quem através de ti enxerga tudo o que tu realizas! De fato, sendo eu quem vivifica-te o corpo por meio da vontade, eu posso edificar-lhe a alma dotando-lhe de destreza e habilidades para fazer, o que a ti capacitei, para aqui neste mundo laborar.
Entrementes, o lavrador, então, ao desconhecido se dirigiu em um tom mais duro e com aspereza:
— Ó homem de Deus! — insinuou-lhe o trabalhador rural de modo enérgico. — Responda-me: quem tu és? O que queres aqui?
— Eu Sou quem através de ti sempre o viu fazer as coisas das quais vives de fazê-las! De fato, onde tu estás aí eu estou! E para onde tu vais, eu contigo vou.
Contudo, o lavrador já cansado daquela conversa banal, pediu para que o estrangeiro se retirasse, e o deixasse continuar com o seu trabalho:
— Peço-te, por favor, que o senhor vá embora! — disse o sitiante com educação. — Por certo, vejo que não me és de boa índole, por a mim não se dirigir conforme a cortesia assim nos ensina.
— De ti sempre fiz valer a minha ciência! — retrucou o desconhecido. — Porque é dela que tu te beneficias, ao fazer o teu trabalho com tanto esmero.
Retorquiu o agricultor:
— Tu falas como a um sábio! Todavia, ainda não me respondeste qual o teu nome. Digo-te que não devemos mais conversar, sem antes o senhor dizer-me qual a vossa graça! Por vezes, eu não sabendo quem é o senhor, não sei como tratá-lo. E da forma que me responde, não sei o que lhe dizer.
— A mim tu deves sempre perguntar — replicou-lhe o desconhecido com objeção —, o que de dentro de ti a de bom e edificante a tua obra, pela qual realizo-me através de ti. Desse modo, estando tu solitário a laborar em tua roça, e a cuidar dos teus animais, eu só posso responder-te o que tu me perguntas, pelo o que tu sabes eu através de ti fazer.
Não obstante, o lavrador já exausto daquela prosa, decidiu por se retirar. E ao desconhecido falou:
— Já que o senhor não vai embora, vou eu! Se fosses a mim justo, terias me dado pelo menos à cortesia de saber quem tu és, e o que de mim desejas. Mas, fica a falar coisas que para mim não fazem sentido algum. Por causa disso, estou a me retirar, por ora, vou voltar ao meu trabalho, e fazer o que me é cabível laborar.
Por fim, o sitiante colocou o seu chapéu, e foi-se retirando e deixando ao desconhecido. Mas, antes que ele lhe desse as costas, o homem enigmático falou:
— Tu pensas não me conhecer! — disse-lhe o misterioso estrangeiro. — Não obstante, a mim tu sempre rezaste, antes de fazer o teu trabalho! Ou seja, eu sou quem a ti lhe dotei de capacidade e vontade para as obras que tu exercita-as, seguidamente, realizá-las. Portanto, em todo tempo fui conhecedor de tuas preces e do teu esforço. Ademais, não tenhas medo de mim! — declarou o estranho buscando apaziguar a situação. — Visto que, eu sendo quem a ti estou a lhe responder como uma projeção da tua alma, certamente ó homem, busque no teu coração, que saberás ouvir o meu nome, e conhecer quem Eu Sou.
Dessa maneira, o desconhecido desapareceu diante do lavrador, de forma que, o agricultor ficou todo arrepiado, e aturdido falou:
— Meu Deus do Céu! — proferiu assombrado. — Quem era aquele homem que me apareceu e desapareceu como a um relâmpago?
— Este quem a ti lhe apareceu e desapareceu como a um relâmpago — ouviu o sitiante reverberar de dentro de si como uma chama divina —, é a tua sombra que se projetou como homem! De fato, ela veio te dizer, o que devias de te revelar! Porque, sendo tu quem para a Deus sempre oraste agradecendo pelas tuas bênçãos, ignoraste a tua sombra que se fez carne, para lhe contemplar a obra, e lhe dizer, que em espírito e verdade sempre através de ti ela obrará. Assim, por cuja causa, és tu, quem deverás (enquanto encarnado), extrair do teu trabalho o teu sustento, de modo a cumprir o que lhe foi sentenciado, quando desceste do céu, para residires aí na Terra, ao descumprires o que te foi falado a não fazer, quando ousaste comer do fruto do conhecimento que te abriu os olhos, e lhe trouxeste a ser neste mundo semelhante nós (anjos), sabedores do bem e do mal, filhos do fogo, deuses. Amém!
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