Logo, por sua vez, ele decidiu sair para dar uma volta pela cidade. Porém, na medida em que ele caminhava, chegando à esquina de uma lanchonete, viu a um mendigo que estava a revirar a lata de lixo atrás de reciclável para vender, ao passo que começou a pensar o rapaz, porque havia tantas injustiças e miséria na sociedade, a tal ponto dele chegar a refletir consigo, em silêncio, por alguns instantes (enquanto observava o semáforo abrir), porque todos os homens não poderiam estar na mesma condição social de igualdade a qual ele pertencia:
— Qual a razão de a vida para algumas pessoas ser tão dura, enquanto que para outras que possuem dinheiro parece ser tão suave? — objetou. — O que a de tão diferente entre os homens, que sendo alguns ricos vivem em abundância e são bem vistos pela sociedade; enquanto que outros, por outro lado, são tão pobres, que precisam revirar lixo para sobreviverem? Isso é um absurdo...
Não obstante, por assim dizer, este rapaz após atravessar a rua andou por mais alguns metros, e percebeu a outro homem pedindo esmolas debaixo de uma ponte, que dava para uma avenida muito movimentada e com bastante comércio, de forma que, também, sobre este pedinte, consigo refletiu em silêncio:
— Olha lá aquele outro homem! — pensou consigo. — É mais uma vítima das injustiças sociais! — lamentou. — Ademais, por estar a pedir esmolas, provavelmente ele não tem por onde fazer. Se bem que, porventura a morte ele a procurasse, eventualmente, ela, quem sabe, livrá-lo-ia da sua ignomínia. Mas, talvez estando lá debaixo da ponte, ele é mais forte em aceitar o seu destino, do que tentar remediá-lo mediante ato tão deplorável que é suicidar-se. Além do mais, quem sou eu para julgá-lo? Afinal de contas, eu não sei pelo o que ele passou para estar onde está.
De certo, diante de todas essas mazelas pelas quais ele caminhou, ocorreu que ao voltar para casa, este rapaz percebeu que havia algo de diferente nele, algo que de algum jeito lhe tocara o coração e a consciência durante o passeio. Por conseguinte, após adentrar em seu apartamento, pensando sobre tudo o que ele vira na rua, caiu no sono no sofá em que ele estava deitado em sua sala, e adormeceu.
Consequentemente um sonho lhe sobreveio, de modo que neste sonho, este rapaz sonhava estar diante de Deus que assumiu uma forma brilhante como ao Sol, e calmo como a brisa, e que o acolhia em harmonia num lugar que nem neste mundo, nem a qualquer outra paragem parecida, esteve ele antes a ver. Por sua parte, maravilhado, tanto quanto, também, assombrado, durante a estadia neste local que ele se encontrava, o rapaz começou a questionar ao Creador:
— Por que Senhor tu permite aos homens passar por tantas injustiças na Terra?
— Não há injustiças! — respondeu o Sapienterno. — Pelo fato de estarem todas as pessoas a fazerem no mundo, o papel que a cada um delas Eu Me propus a representar.
— Mas como pode Senhor no mundo não haver injustiças? — perguntou de maneira retórica o homem inconformado. — Oras, por que existem pessoas que possuem tantos recursos, enquanto que há outras que pouco ou nada possuem? Por certo, por que nestes que pouco ou nada tem o Senhor se faz ser humilhado, se poderia fazer-se melhor, ou seja, ser em todos os seres humanos iguais em suas condições financeiras e sociais?
— Eu Sou em cada um deles — disse-lhe o Majestoso — aquilo que de melhor Eu me propus através deles existir! Pois, sendo Eu todos, e todos sendo Eu, então, o que podem estes representar, senão, o que a Mim inculquei a viver por meio deles?
Todavia, o rapaz, no sonho, não se conformava com o que Deus lhe respondeu. E continuou a interrogá-Lo:
— Mas por que o Senhor mediante destas pessoas não se faz ser melhor? Pode o Senhor a isso equivaler sendo Deus! Certamente é um absurdo ver tantas pessoas infelizes pelo mundo, passando por necessidades e exclusão social.
— Eu Sou o que Sou, e sempre serei o que me alvitrei a ser! — disse novamente o Eterno. — Portanto, através de ti — explicou o globo de luz luminoso — Me fiz homem de condições financeiras melhores para que pudesse com a sua riqueza, compartilhar com quem pouco ou nada possui os seus recursos materiais. Contudo, mesmo em tua abundância, em solidão tu habitas! Afinal de contas, ela te isola da maioria dos demais.
Por causa disso, o rapaz, sentiu que o Misericordioso havia lhe tocado na ferida, ou seja, a solidão. Doutro modo, indagou-O:
— Oras, por que através de mim o Senhor se faz só? — repreendeu-O. — Se pode o Senhor se fazer acompanhado? Ser rico, então, é de alguma maneira errado?
— Eu Sou através de ti solitário — respondeu o Creador — para que Eu possa observar por meio da sua mente as pessoas que tu te apiedas! Visto que, foi por esse motivo que tu foste buscar entender em espírito — ao sair do seu edifício para passear —, porque a eles não sou semelhante a ti em carne, isto é, próspero.
Isto posto, o rapaz, percebeu que Deus estava a lhe dizer coisas que para ele não faziam sentido. Ainda assim, ele continuava a perguntar ao Altíssimo, tentando buscar compreender, a forma pela qual a sociedade humana é organizada:
— Mas sendo o Senhor Deus... — titubeou — por que se põe a sofrer?
— O que para tu é sofrimento — respondeu o Misericordioso — a Mim é uma maneira de ser! — afirmou. — Pensas tu, que em ti, Eu Me faço ser tão diferente dos demais? — revidou-lhe a pergunta. — Não! — atestou. — Eu Sou através de ti, aquilo que tu suportas viver em tua dor. E sou neles, o que eles suportam passarem em suas aflições.
Á vista disso, o rapaz, ficou intrigado com a resposta que recebeu no sonho. E interpelou por mais uma vez ao Creador, ansioso por descobrir o motivo de haver tantas desigualdades sociais:
— Mas por que o Senhor não se torna justo, bom e próspero entre toda a humanidade? Tem o Senhor algum ódio aos homens, de maneira a se fazer passar através de alguns deles, por tão ordinárias criaturas como estas que vivem em exclusão social?
— Nenhum homem Me é ordinário! — respondeu o Creador. — Eu Sou por meio de cada ser humano, o que nele Eu quis Me fazer desenrolar. Portanto, a humanidade é a forma pela qual ao mundo Me revelo pelos diferentes personagens aos quais interpreto. E, sendo através do homem que no mundo Me realizo, é por meio de pessoas como tu — que a Mim buscam em espírito como estas a fazer agora —, que procuro entender a causa das injustiças sociais, ao perceber o contraste que existe entre o bem e o mal, em decorrência das dificuldades que cada ser humano passa na Terra.
Em sequência aconteceu que o rapaz acordou do seu profundo sono todo suado e assustado. E se perguntou:
— Onde eu estava naquele sonho? — disse a si mesmo perturbado. — Pois, parecia que eu conversava com Deus! Mas, eu não o compreendia. O que há de ser destas pobres pessoas que neste mundo passam por tantas dificuldades, e a tantas dores toleram?
Daí, então, o Creador para ele apareceu em forma de anjo. E lhe falou:
— Tu te compadeces deles, e Me procuras para poder entendê-los, haja vista ser todos eles, assim como tu, filhos de Deus. Desse modo, é por entre a tua mente que revelo a minha virtude, isto é, o anjo que me fiz ser. Conseguintemente é através dessa virtude que tu deves também Me reconhecer mediante deles, por cuja causa, eles também, possuem como a ti, as suas luzes interiores, ou dito de outra maneira, os seus guardiões.
Dessa forma, foi através do seu passeio pela cidade, que constatou o rapaz, que Deus está em todos e todos estão em Deus! Pois, todo aquele que se condoer da miséria e do desespero do próximo sem julgá-lo (mas procurando entender que o sofrimento de cada ser humano é uma das maneiras pelas quais o homem pode chegar ao Altíssimo por meio da compaixão), perceberá que Deus se faz compreensível em cada ato ou cena que observamos no nosso cotidiano.
Por fim, o rapaz discorreu consigo em solilóquio:
— Louvado seja ó Misericordioso e
Sapienterno Creador! — disse ao contemplar a revelação divina que se
materializou em sua sala. — Diante de ti, agora, estou a perceber que o mundo é
um grande palco, onde todos nós seres humanos estamos interpretando uma peça de
cada vez, através das eras pelas quais passamos ao longo da nossa vida na
Terra. Além do mais, é diante de cada representação que o Senhor revela a tua
grandeza, haja vista, ser por meio do homem, que Deus demonstra todo o seu
potencial infinito e de amor. No sofrimento, tu te tornas grandes, pois, se não
houvesse a dor, não haveria a possibilidade de demonstrarmos condolência e
refletirmos sobres as nossas próprias dores. Mas que bom que eu te encontrei!
Por que, agora, sou conhecedor dos mistérios divinos, e posso aceitar melhor o
sofrimento alheio, sem tomar-lhe as aflições, mas, por outro lado, me motivando
na medida do possível, em ajudá-los a amenizar através deles, também, as minhas
mágoas que são as culpas que carrego dos males que pratiquei. Portanto, de
agora em diante, posso mediante das minhas posses financeiras, empreender
maneiras de ajudar ao próximo a remediar os seus sofrimentos, e, desta
maneira, também remediar os meus, pois, doravante compreendo — que ao auxiliar
as outras pessoas —, estou de alguma forma ajudando a mim mesmo, a curar os
meus traumas e a sanar a minha mente, e, desta forma, eu consigo me elevar em
espírito até o céu. Amém!
Nenhum comentário:
Postar um comentário