O Matrimônio

 

 

Um trabalhador (operário da construção civil) ficou sabendo por meio de uma parteira que foi ao seu encontro — logo que ele chegou a sua casa, após um dia extenuante de labuta diária —, que sua esposa havia acabado de ter dado a luz a um filho seu. De fato, tendo o recém-nascido como muito querido pelo casal, o homem a Deus louvou-O! E bendizendo a criança com os braços estendidos para o alto, disse-lhe:

— Agradeço-Te — ó Deus de misericórdia e amor — por ter-me dado esta criança que tanto aguardei. — proferiu segurando o bebê. — Doravante sou um homem completo e realizado, visto que, pos­terguei por meio dela, a minha vida na Terra. — finalizou o seu discurso em lágrimas.

Por conseguinte, vendo o Altíssimo ao homem em grande júbilo (por a tua esposa ter gerado uma nova vida), para ele se fez presente como a um belo anjo. E, por conseguinte, revelando-se como a um forte clarão, lhe falou:

— Tu ó homem — disse-lhe o sapienterno — ainda que da carne tenha provado, e do fruto comido, foste fiel aos princípios que a ti lhe dei, para que não se promiscuísse com os prazeres que ela te proporciona, tornando-te refém da sombra que em teus desejos devassos o induz a pecar. Contudo, por outro lado, foste obediente a tua mulher, de maneira que tendo-a em matrimônio, e sendo fiel a ela, como também, ela a ti, abençoei-vos com esta criança, para que tu te regozijes com a tua companheira desta maravilhosa graça de terem gerado, através da alquimia, esse novo e belíssimo ser hu­mano.

Diante disso, o homem ficou surpreso com aquela aparição lumi­nosa e radiante, de modo que ao anjo disse — ainda que não sou­besse ser a revelação angelical —, a glória de Deus que se materiali­zou:

— Bendito sejas ó Pai! — glorificou ao Creador. — Por ter-me tido em misericórdia e compaixão. Todavia, estando em queda como espírito neste corpo, a carne desejo-a. Certamente, uma vez que a desejei, eu tive através da mulher, a satisfação de poder as necessida­des das minhas paixões saciá-las. Logo, por conta disso, realizei a magia de ter feito com ela, esse maravilhoso filho que ao Senhor consagro, mediante a minha fé e oração.

— Tu tens a mulher por esposa! — respondeu o anjo radiante semelhante ao Sol. — E sendo esposo dela, tu deves aos desejos dela também saciá-los. Doutro jeito, sendo a mulher quem ao homem seduz, despertando nele a tentação pelo fruto proibido do conheci­mento do bem e do mal, isto é, os prazeres, é o homem, portanto, também a sua mulher — quando marido —, obrigado as suas pai­xões saciá-las.

— A minha esposa eu sou fiel, e ela a mim também o é! — retor­quiu o homem demonstrando ser leal a sua companheira, se expres­sando, de igual modo, através de gestos com as mãos. — Por isso mesmo, a concepção desta criança, foi fruto do amor que tive por ela, e pelo respeito que ela teve por mim. Afinal, sendo eu o porta­dor da luz seminal, e ela a abertura para o cosmos, quer dizer (o portal para o espírito adentrar na matéria), nela semeei em seu ven­tre, a semente que a uma nova vida se fez nascer! Portanto, foi desta maneira que ela me deu a alegria de como ao Senhor, poder ter um filho, que por semelhança me chamarás como eu te chamo de Pai. Donde seremos, a partir de agora, o reflexo pelo qual nos tornare­mos conhecedores de nossas virtudes e fraquezas, que se manifesta­rão mediante as nossas lutas internas, tanto quanto externas, a ponto de eu me tornar sabedor de quem Eu Sou, assim como, também, o filho que com a mulher eu ao Senhor consagrei.

— Oras, sendo Deus vosso Pai e mestre — disse-lhe a forma lu­minosa — a ti Ele te concedeu este filho, como forma de tu te per­petuares através da tua descendência na Terra. Porquanto, sendo tu, ó homem, feito a imagem e semelhança do teu Creador, és tu o pri­mogênito de toda espécie humana, ou seja, o primeiro ser humano a vir existir! Ainda assim, tu e toda a humanidade são um só aos olhos de Deus. Pois que, tudo parte do uno, por serem todas as coisas existentes, provenientes da mesma origem, isto é, do Creador que as engendrou em sua mente divina, através de toda a complexidade que vêm desde infindáveis tempos, permanecer.

— Ó Senhor! — exclamou. — Sou a ti grato em poder postergar a minha vida por meio do meu filho. — respondeu o operário se curvando demonstrando profunda humildade. — Uma vez que, tendo eu o mesmo poder de multiplicar a minha espécie, assim o farei quando com a mulher em respeito nós nos unirmos conjugal­mente! E sendo eu e ela um só corpo e um só espírito, voltaremos a ser em essência — como já existiu antes — um único ser humano.

— Ó homem! — contrapôs-se a forma esférica de luz. — Tu não podes ter ilusões sobre a tua união com a mulher! — afirmou o anjo que brilhava feito uma estrela. — Pois sendo ela filha da sombra, e sendo tu filho da luz, só pode ambos coexistir, quando entre vós houver o desejo de se unirem em carne. E sendo este desejo a causa do sofrimento da tua espécie, é ele que dá a mulher, motivos para tu ires visitá-la! Afinal, sabendo a tua companheira que o homem é suscetível aos seus prazeres, e que estes a ele causam muitos embara­ços e confusões, tende a mulher ao seu companheiro mediante desta necessidade inferior manipulá-lo, e fazer dele instrumento de suas derradeiras paixões.

— Mas Senhor! — questionou o homem ao Creador que admitia a forma de um anjo reluzente. — Eu tenho que ir até a minha mu­lher visitá-la, para que ela satisfaça as minhas necessidades enquanto espírito encarnado. E coexistindo eu e ela em um só corpo, coexis­timo-nos em uma só carne! Pois, mediante o ato carnal que prati­carmos, passaremos a ser novamente um único ser humano, através da união dos nossos campos energéticos, ou seja, luz e trevas, por­tanto, alma gêmea. A saber, ficarei contente em poder por meio deste ato alquímico, ser semelhante ao Senhor — “um pequeno deus” —, quer dizer, gerador de novas vidas.

— Ó criatura! — tornou o espectro angelical a chamar a atenção do homem. — Sendo tu filho da luz, não podes com a tua mulher serem um só corpo e espírito unidos pela carne. Porquanto a tua companheira a ti não amas! Mas, por outro lado, o tem por seu bel prazer. Doutra sorte, ela te é fiel, quando tu a deres o que tem de mais precioso e sagrado, que é a tua semente. Como também, lhe proporcionar segurança e alimentação, ou seja, recursos materiais. Por sua parte, tu lhe és fiel, quando ela te proporciona saciar-te as tuas necessidades carnais, se bem que, em teu coração, tu por ela nutres o desejo de possuí-la como a um belo tesouro. Portanto, o amor que tu alimentas pela tua parceira, é uma ilusão! Pois ela o usa para se satisfazer, e poder através dele manipulá-lo. Logo, a tua con­sorte, o tem em consideração e respeito, quando tu se dispões em realizar as suas vontades. Já que, vaidosa como ela é, tu só podes ter a sua senhora por esposa, se tu a conferir as realizações que possa ela de ti se aproveitar.

— Mas Senhor! — contrapôs-se novamente o homem deslum­brado pelo amor a sua companheira. — Sou eu e a minha cônjuge muito felizes! Com efeito, temos agora a um filho, e mesmo antes dele ter nascido, convivíamos em harmonia e bem-aventurança. Oras, temos muito ao Senhor a agradecê-Lo, por ter-nos abençoados com uma criança e com recursos para podermos dar-lhe o melhor. Sou fiel ao Senhor, como sou fiel a minha amada consorte.

— Não pode ser o homem fiel a Deus — rebateu-lhe o anjo cin­tilante — igual ele é devoto a sua dama! — afirmou. Afinal, sendo a esposa concedida ao homem pelo sagrado — quando ele merecê-la —, tem o mesmo que continuar no tocante a sua lealdade, só a Deus constante em sua fé e em suas orações! Se bem que, o homem que serve as suas paixões, não pode servir sinceramente ao Senhor. Além disso, a mulher deve ser leal ao seu marido em matri­mônio, sendo, portanto, esta maneira, por assim dizer, dela também servir ao sagrado em conjunto com o seu parceiro. Porque, o ho­mem, desde já, é propenso à mulher aos seus caprichos realizá-los, e sendo ela desde sempre caprichosa, deve o mesmo precaver-se de não se deixar por ela enganar-se! — observou o Altíssimo que relu­zia semelhante a uma esfera de luz. — Pois, caindo ele em seus en­godos e encantos, ficas a mercê de ter que as suas vontades satisfazê-las, e não realizando-as, ele a perderá.

— Ó Senhor! — disse o operário com certo pesar. — Eu a mi­nha parceira sempre dei o que ela de mim desejou: o meu amor! — objetou o homem contrariando o sagrado que se manifestava como aos raios solares. — E o fruto deste amor, é a criança que nasceu. De sorte que, sendo nós um ao outro pactuado, somos em corpo e espírito perseverantes em nosso matrimônio. Uma vez que, a forma que tenho de amá-la, é, também, por este motivo, a que demonstro de protegê-la.

Todavia percebia o Creador através da sua manifestação angelical, como a mulher manipulou os sentimentos do homem, usando da persuasão para conseguir dele, por sua vez, obter a sua fidelidade. 

Logo, alertando-o com maior ênfase, lhe falou:

— Ó homem! Tu não deves ficar a imaginar coisas, que na reali­dade não correspondem à natureza humana. — censurou-o. — A mulher a ti destes um filho — não porque lho amas — mas, por outro lado, porque era o que a satisfazia de tu obteres, para mantê-lo preso a ela! Afinal, gostando das tuas carícias e do teu amor, a mu­lher usa-te através da astucia e dos prazeres, para mantê-lo hipnoti­zado às seduções e caprichos dela. E nutrindo-se da tua luz mediante o ato sexual, ela faz com que através da fecundação e gestação de um novo corpo, a alma venha por meio do espírito, encarnar.

Por tal razão, contrariou novamente o operário ao sagrado, de­monstrando em suas atitudes já estar seduzido pelo seu amor a sua companheira:

— Senhor! — exclamou. — Sou feliz como estou! — reafirmou. — Devo ao Senhor as bênçãos que recebi ao longo da minha vida. Certamente, estando satisfeito com a minha esposa e o meu filho, somos ao Senhor gratos, por a nós fazermos unirmos em matrimô­nio como marido e mulher.

— Não é a Mim que tu deves agradecer por ser a tua consorte unido em matrimônio! — respondeu o espectro de luz. — Pois, isso só foi possível, devido a tua fornicação com ela. Porquanto, o ideal seria que dela não te obtivesses os prazeres, donde, permanecerias fiel a Deus e crente em tua fé. Ademais, mantendo-se casto, a muitos dissabores evitarias, se tivesses ao Altíssimo buscado em espírito, e não a carne para satisfazeres os desejos do teu corpo.

— Tenho, pois, muito a considerar sobre o que Tu ensinas a mim. — retrucou o homem ao anjo que brilhava como as estrelas no firmamento. — Com efeito, eu sabendo que o Senhor me diz a ver­dade, sei no meu coração, que devo sempre dar crédito a sua inspira­ção! Posto que, o homem que vive de mentiras, sabe reconhecer a verdade. E o que vive na verdade, sabe reconhecer a mentira. Por­tanto, sendo o Senhor Santo desde sempre, permitiu que a mim fosse dado à escolha, de optar entre iluminar-me através da medita­ção e voltar para casa, ou seja, o reino dos céus, ou satisfazer as paixões da minha carne, e, porventura, me deliciar com as maravilhas do mundo, bem como, de igual modo, sofrer as consequências da minha predileção.

— Serás tu sempre a Deus bem-vindo — disse-lhe o Creador — quando tu deixares de se profanares através da carne, e se deliciares com os prazeres enganosos do mundo! Pois que, estou esperando ao meu filho amado que Me fiz ser, e que dele sempre estou junto quando ele Me procura no silêncio interno do seu âmago. Portanto, é desse modo que, Me encontrando em seu interior, posso ajudá-lo para casa voltar.

— Oras Senhor! — redarguiu o homem ao Pai. — Sempre o terei em meu coração! — afirmou. — Contudo, vivo para as coisas mun­danas experimentá-las. Porque não saberei até onde me é dado co­nhecer — o que é o bem e o mal —, se eu não buscar descobrir por mim mesmo, as respostas que tanto as procuro e que não as encon­tro, desde que caí na dualidade deste mundo, isto é, da luz e das trevas.

— Saberás tu sobre o que é o bem e o mal — replicou o miseri­cordioso — quando deixares a intuição te guiar! Posto que, sendo tu luz como Eu Sou deves, a rigor, Me buscar em espírito, adentrando no teu templo sagrado, ou seja, escutando o seu centro cardíaco, por onde posso te guiar. Portanto, ó filho meu, é que terei o prazer em te ver renascer, quando deixares a duvida que lhe aflige a alma, e voltar ao seu Pai Eterno, imergido meditando em sossego e reflexão.

— Mas senhor! — revidou o operário descontente. — Vivo neste mundo à custa de muito sofrimento e tentações. — justificou. — E encontrando ao longo da minha jornada os enganos que ele me prega (quando me submeto as minhas vontades), são estas circuns­tancias negativas oriundas dos meus desejos, que me fazem arrepen­dido encher-me de coragem, e voltar ao Senhor, para ser recebido de braços abertos, ou seja, me restaurar! Por que, sei que devido a mi­nha teimosia, infelizmente terei aflições, ao me negar com recorrên­cia diária, ouvi-Lo no silêncio interno das minhas meditações.

— Ó filho meu! — exclamou o sapienterno. — Deves tu buscar no teu Pai — disse-lhe o Creador — as respostas que lhe aflige não sabê-las! E não no mundo que há de te enganar. Sejamos nós um só corpo e espírito! E seremos uma só verdade! Quando o homem de coração aberto se entregar a Deus.

Por causa disso percebeu o pedreiro — o Misericordioso medi­ante a forma angelical —, estar triste pela escolha que ele tomou em a mulher servi-la ao invés de ao seu Pai Eterno. Consequentemente, perante o exposto, ficou o Altíssimo ao seu filho amado esperando que ele retornasse ao seu corpo espiritual, isto é, ao pleroma, para que, desse modo, ele possa despertar das ilusões deste mundo físico, e, por conseguinte, ser um só com o Pai, ao retornar para dentro de si, onde possa reencontrá-Lo. Conquanto, só pode o homem des­pertar da mentira, quando a verdade ele busca! E o homem só en­contra a verdade, adentrando em si mesmo, ouvindo em silêncio o seu Creador lho ensinar.

Por fim, concluiu o trabalhador:

— Deixei-me seduzir pela serpente que me traiu a consciência, quando desejei a mulher possuí-la. De maneira que, neguei ao Pai Eterno servi-Lo em espírito e verdade, diante da condição em que me encontro decaído na matéria. Por essa razão, agora, serei feito a imagem e semelhança daqueles que com a mulher gerei, e tê-los-ei que ensinar-lhes a buscar ao Creador em espírito dentro de si mes­mos, porque, é onde Deus se faz ser ouvido pelas pessoas, no inte­rior das suas almas. Ademais, de agora em diante, passarei os meus dias na Terra, a trabalhar e a fazer a grande obra de Deus, quer dizer, me esforçarei para concluir o meu propósito, ao me entregar de corpo e alma a labuta diária, de modo a concluir a minha missão. Porquanto, não deixarei jamais de buscar ao Misericordiosíssimo em espírito, ao me dedicar, ao menos uma vez ao dia a meditação, ora­ção e estudos, de maneira a poder por meio dessas práticas cotidia­nas, me restabelecer dos meus tropeços. Porque, é o homem tentado pelo caminho a usar da sua escolha tanto para fazer o bem, quanto o mal. Por isso, em meu coração, buscarei sempre me resguardar de cair em tentação, pois, sei o quanto isso me será penoso, por impru­dentemente estar a me afastar do Creador. Amém!

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Sinopse

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