O Santo

 
 
 
 
Um homem estava sendo assediado por um espírito que queria fazer um acordo com ele. E, oferecendo-lhe uma grande quantia em dinheiro e muitos benefícios ao longo de um determi­nado período de tempo, este daemon pediu ao homem que em troca ele só teria que lhe conceder a sua amizade, e a sua adoração, visto que, todo o gênio que algum favor presta ao ser humano, o torna subserviente dele, e lhe impõe uma pesada carga psicológica de obri­gações, pelo fato de ele ter o direito em tê-lo como servo, por estar à pessoa que com a entidade se pactuou, obrigada a servi-la de acordo com os seus desejos e vontades em conseguir possuir bens materiais, prazeres e status social.

Logo, em decorrência desta causa, este espírito ao homem falou:

— Veja só moço! — disse-lhe o demônio. — Eu tenho uma pro­posta a te fazer. — assediou-o. — Tu queres que eu te abra os cami­nhos — perguntou o gênio de maneira sedutora — e te favoreça na fortuna, honra e boa sorte?

— O que de mim tu queres em troca demônio? — contradisse o homem. — O que tenho que contigo fazer, para que me dês o que desejo em meu coração? — retrucou o varão meio que desconfiado.

— Tu a mim deves dar-me em consciência a sua amizade e o seu amor! — respondeu o demônio. — Dessa forma, eu terei de ti, o que de mais puro á em seu coração, que é a sua força espiritual que a mim servirás de acordo com o projeto que tenho preparado para ti cumprir, ou seja, deixar-me usar-te como receptáculo para a minha incorporação.

Isto posto, o homem, então, percebendo a astucia do demônio indagou-o:

— Pois tu queres que eu seja o teu servo, ao invés de seres tu o meu?

— Não! — respondeu o demônio. — Eu quero que tu me con­cedas a tua luz, para que eu possa obrar por ti, o que tu não conse­gues por si mesmo fazer.

— E por que tu achas que eu não sou capaz de fazer algo por mim mesmo, de modo que tu pensas poder fazê-lo por mim?

— Oras! — disse-lhe o demônio — se queres satisfazer-te os de­sejos que possuis, então, por que não fazes com que eles se concreti­zem ao invés de recordes a mim? — replicou o danado.

— Tu pensas que eu sou trouxa? — contra-argumentou o ho­mem. — Tu queres que eu te conceda a minha luz, para que tu pos­sas desta forma, obrar por meio de mim, coisa que eu posso muito bem conseguir mediante o meu esforço e trabalho fazer? — questi­onou-o. — Além do mais não fui eu quem a ti recorri! — afirmou. — Pelo contrário, foste tu que vieste seduzir-me com as tuas malí­cias e com as tuas astúcias.

— Alto lá criatura! — redarguiu o demônio. — Não sou eu que vim até ti por vontade própria. No entanto, aqui estou porque tu estás com o teu coração cheio de desejos e queres dos bens da terra, o que devias em sabedoria buscar.

— E por que tu pensas que eu quero os bens da terra, e não a salvação no céu? — interpelou o varão ao daemon. — Será que eu não sou homem o suficiente, para possuir as coisas que desejo, indo eu mesmo ao encontro delas? Não pensas tu que podes me dizer o que devo ou não fazer! Porque sei bem o que quero, e aonde buscar o que desejo. — disse o homem enfezado com o espírito infernal.

— Claro que sabes! — retrucou o demônio sorrindo com um ar de deboche. — Tu me atraíste por desejares obter prazeres e bens materiais! Uma vez que, eu não perderia o meu tempo vindo até a ti, se tu não estivesses com o teu coração carregado de tantos desejos. E eu não estaria a te fazer esta oferta, se tu não estivesses inclinado a aceitá-la.

Todavia, notava o homem a astúcia do demônio e a maneira ca­prichosa com que ele falava. E interrogou-o:

— E como tu achas que eu poderei aceitar algo que sei que me é prejudicial? Tu pensas que por eu estar encarnado, esqueci-me de quem eu sou e de onde eu vim?

— Tu podes até se lembrar de quem tu és e de onde vieste! — respondeu o demônio sorrindo. — Mas, tenho certeza de que na carne em que habitas, tu queres satisfazê-la. E a mim irás conceder-me de conseguir-te, o que tu não queres fazer por si mesmo, haja vista a moral que cultivas o inibir de realizar a sua verdadeira von­tade, ou seja, se deixar possuir pelo mal.

— Posso muito bem ir ao encontro das coisas que eu desejo sem ter que fazer qualquer que seja o acordo contigo. — replicou o ho­mem enfurecido. — Tu não podes me fazer nada! — aludiu. — Pois, só por desejar a minha luz, isso já me mostra o quão fraco e desprovido de brilho e de amor, tu és.

Diante disso, o demônio, então, se enfezou com o homem, e o ameaçou:

— Tu achas que estou aqui para brincar? — redarguiu-o. — Tu pensas que eu não sei o que no teu coração tu carregas? Quer mesmo fazer joguinhos?

— Quem está a fazer joguinhos aqui és tu! — retrucou o homem com firmeza. — Não ando com demônios, e nem os quero em mi­nha cola. Entretanto, tu até mim veio, porque pensas poder corrom­per o meu coração! E eu lhe provarei, que a tua astúcia não é maior, do que a fé que tenho em quem do meu interior me orienta os pas­sos, com sabedoria e retidão.

À vista disso o demônio percebendo a persistência e o modo com que aquele ser humano resistia a suas investidas, deduziu ser esse um homem santo. E a ele falou:

— Ora, ora! — disse o daemon surpreso. — Veja só! — excla­mou. — Estou diante de um homem santo! — afirmou. — Quem diria? — ironizou. — A tão poucos neste mundo, e dei a sorte de ha um deles encontrar! — sorriu com maledicência. — O que poderás tu fazer — ó homem de Deus — que eu não possa por meio de ti concretizar? — questionou o espírito maligno.

— Tu não podes realizar nada sem a minha permissão! — res­pondeu o santo com convicção. — Eu sou edificado em luz e ver­dade; em espírito e sabedoria! E estou pronto para te expulsar — se for necessário — com a luz que de mim irradias, em verdade e amor! Pois, sendo tu profano, és tu mesquinho e cheio de artimanhas e enganações.

Por causa disso, o demônio, então, viu-se desafiado pelo santo. E enfurecido com a sua coragem, o ameaçou:

— Quer dizer, que então, tu se achas ser mais forte e poderoso do que eu? É isso?

— A ti não sou mais poderoso e nem forte! — respondeu o santo confiante. — Porém, o que habita dentro de mim em luz e verdade, é o Espírito Santo de Deus que me edifica em sabedoria e me conduz no caminho da justiça. Portanto, ele é o único que pode me conceder a verdadeira chama que irradia a vida eterna, por ser ela, a própria sapiência do Creador.

— Prove-me se tu és tão forte assim em espírito quanto pensa ser! — desafiou o anjo caído ao homem de Deus. — No teu coração sei tudo o que se passa. E nele farei um templo, onde tu a mim ser­virás.

— Em meu coração — refutou o santo convicto de sua fé — tu nem sequer perto chegarás! Além disso, em meu espírito, vive a luz que me faz possuir a coroa divina da vida eterna, ou seja, a luz do Creador. E mesmo eu estando aqui preso a este corpo, ainda assim, possuo as virtudes que um dia já as possui em espírito quando habi­tavas no céu. Tu não me sujeitarás as tuas vontades e depravações. Pois sei que tu és a sombra que nas profundezas da minha alma acorrentada está, mas que quer se libertar para o caos no mundo trazer, caso eu te conceda permissão para no meu corpo incorporar.

Em razão disso, o demônio, ressentiu-se com a coragem e a força de espírito que o homem santo a ele se dirigia, e indagou-o:

— Quer dizer que tu estás mesmo confiante de que podes me vencer? — perguntou o Diabo. — Humano tolo! — ofendeu-o. — Sou a estrela que caiu do céu, por eu ser a fonte do conhecimento do bem e do mal de toda a humanidade.

— A ti já o venci! — respondeu o santo. — Quando das tuas astúcias me esquiveis. — aludiu. — Portanto, ó espírito do mal, não me amole a paciência e deixe-me em paz!

Por conseguinte, o demônio começou a bufar de ódio. E ao ho­mem santo dirigiu-se com raiva dizendo-lhe:

— Agora tu vais provar da minha fúria! — ameaçou-o. — Pois, a ti dei-lhe a chance de poder satisfazer todas as tuas depravações e desejos profanos, que tens em teu coração. Mas, como tu me negas­tes dar a ti os prazeres do mundo, e se rendeste a glorificar ao espí­rito de luz que de dentro de ti falas e habitas, quer dizer, o Cristos, fareis com que sofra na carne, o que tu sentirás até em espírito! Dado que, a mim foi concedido por Deus ao homem atormentá-lo, enquanto este estiver encarnado e andando sobre a Terra.

— Tu a mim não assustas! — rebateu o santo. — Tenho comigo a luz que me fazes abrir o olho para a verdade, e perceber as tuas malandragens. Portanto, ó espírito cego, a mim tu não ferirás e nem me tornarás o teu servo! Pois, confiante eu estou em que há dentro de mim, alguém muito maior do que tu e as tuas ameaças. Além de tudo, é Ele que me instruis em caminhos luminosos, e me afastas das tuas tentações.

Por essa razão, o demônio constatou ser este homem consciente de si e das suas virtudes espirituais, e decidiu ser mais brando com ele, pois, se tocou de que por ameaças e violência, não conseguirias intimidá-lo e nem constrangê-lo. Por isso o daemon partiu para a cordialidade, e ao homem santo perguntou:

— Por certo, então me digas: o que tu desejas de mim mestre? O que eu posso fazer por ti, para satisfazer-te a sua vontade?

— Nada! — respondeu o santo. — Haja vista ser tu malicioso desde o princípio. E pensando em fazer-me de tolo, me dominarias, quando eu a ti porventura deixar-me ser seduzido pelas tuas palavras e pelas tuas astucias.

Contudo, o demônio, pacientemente ao homem santo por mais uma vez tentou seduzi-lo. E falou:

— Sou teu servo e fiel escravo! — aludiu demonstrando falsa humildade. — A algo que a ti eu poderei fazer-te, para que o senhor dê-me a recompensa da tua fé, pelo serviço que a ti prestá-lo-ei?

— Dos teus serviços — disse o santo confiante — nada desejo demônio! Agora, tens tu que me deixar! Visto que, tu me és desde o princípio pedra no meu caminho! Como também, estorvo na realiza­ção das minhas boas obras, por eu ser um discípulo dos anjos do céu.

Logo, o demônio percebeu não conseguir fazer com que aquele homem santo se deixasse dominar por ele, de modo que, então, lhe ameaçou com cinismo e deboche:

— Tu achas mesmo ser forte o suficiente criatura? — perguntou o daemon sorrateiro. — Todavia, haverás de um dia se renderes ao demônio que a ti estás a oferecer-te todas as coisas terrenas e praze­rosas do mundo. Uma vez que, sendo eu que faço o homem se cor­romper, a ti também o farei. Pois, enquanto tu viveres, tu estarás a mim sujeito de ter que vencer, até os seus últimos dias de vida na Terra. E lhe digo mais: não haverá sequer um dia em que lhe darei paz! Pois, tu a paz buscarás, mas só a mim encontrarás travestido de tentações.

— Tenha certeza espírito mal — replicou o santo convicto de suas palavras — não haverá um dia enquanto eu viver neste corpo, que a ti não estarei disposto a confrontá-lo e expulsá-lo do meu templo! Porque, neste templo quem vive e edificá-o é a sabedoria dos santos anjos do céu! E tu — sombra maligna dos meus desejos — não corromperás este lugar sagrado, que aos espíritos celestiais foi consagrado em luz e verdade habitar.

— Oras, pois, então veremos! — disse-lhe o espírito maligno sor­rindo com ar de desprezo. — Muito ainda lhe resta de dias para que tu possas a esta carne dar vida. E pode ter certeza que eu estarei a cada um desses dias a te tentar, com o sabor que tu desejarás de provar e possuir a tudo o que a ela poderás satisfazer-te em prazeres, e apetites vultosos e insanos se emporcalhar. Portanto, não penses que a ti darei sossego. Se bem que, tornarei a tua vida um inferno, já que a minha função desde agora é te atrapalhar e te fazer sucumbir aos teus desejos e as tuas vontades, isto é, as tuas trevas interiores.

— Vá de reto espírito imundo! — esconjurou o santo ao Diabo. — Tenho mais em minha vida a fazer, do que deixar-te atazaná-la, e atrapalhar-me as boas obras que em espírito e verdade eu tenho que realizá-las. Tu não passas de um ser corrupto e desavergonhado, que aos homens seduz com traições e mentiras, para depois vê-los na lama e nas aflições de seus dias, e assim se deleitar com a dor e so­frimento alheio. Não te cederei nem sequer um centímetro da minha honra, e da minha dignidade! Portanto, saias agora para longe de mim! Pois, estou em oração e vigília eterna contra ti, até os meus últimos dias neste corpo em que hábito na face da Terra. Por isso, tenha certeza espírito mal: Não te cederei sequer um décimo da minha luz e da minha fé, pois sei que vives da força que os homens te concedem, quando os mesmo alimentam-no com suas práticas vazias e imundas, tentando, desta forma, preencherem o seus cora­ções que estão privados de fé. Fiques, portanto, ciente de que de mim tu só terás combate! Afinal, o que pode um homem bom fazer, a não ser, lutar contra as trevas que lhe quer obscurecer o coração e envenenar-lhe a alma e salgar-lhe a carne? A ti digo: Diante de mim, não passarás! Amém!

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Sinopse

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